VILLARES
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A Indústrias Villares S.A., de São Paulo (SP), hoje concentrada na área de aços especiais, já se constituiu em um grupo industrial diversificado, atuante nos setores de mineração, metalurgia, mecânica, material elétrico e de transporte (locomotivas, elevadores Atlas). Foi importante fabricante de guindastes e, na área dos transportes públicos, a principal responsável pelo desenvolvimento do trólebus nacional.
Através de sua subsidiária Atlas, a Villares foi a fornecedora dos comandos elétricos e do motor de tração do primeiro ônibus elétrico fabricado no Brasil (o modelo AA), ainda sob licença estrangeira. Apresentado ao Presidente da República em 1958, o veículo já apresentava 85% de conteúdo nacional (apenas eixos, freios e sistema de direção foram inicialmente importados). Aquela foi uma iniciativa da empresa, que no ano anterior criou a Trolleybus Villares S.A. em associação com a Grassi, adquirindo nos EUA a tecnologias veicular e elétrica necessárias, respectivamente junto à Marmon-Herrington e à Westinghouse.
Os primeiros trólebus foram colocados em operação no Município de Araraquara. Houve também encomendas de Porto Alegre (200 unidades), Recife (130), Belo Horizonte (70) e Piracicaba (10), além das cinco de Araraquara; a maior parte delas, porém, seria reduzida ou simplesmente cancelada. Por falta de demanda, a Trolleybus Villares foi encerrada em 1961.
Já no ano seguinte, porém, a Villares seria chamada a participar do desenvolvimento do segundo projeto brasileiro de ônibus elétricos, desta vez o Massari TTPA, com chassi FNM, comparecendo com os componentes elétricos. Em mais duas ocasiões a empresa forneceria para Araraquara (1977 e 1981), consorciada à Caio e Massari, no primeiro caso, e à Caio e Scania no último, estas participando com carrocerias e chassis.
A partir de 1985 seria a responsável pelos motores de tração e equipamentos eletroeletrônicos de controle de velocidade (já agora do tipo chopper, muito mais atualizados) dos modernos elétricos produzidos pela Mafersa. Ainda em 1985 participou da construção de um dos três protótipos de trólebus articulados encomendados pela CMTC. Dois anos depois, por fim, foi contratada pela Mercedes-Benz para fornecer os sistemas elétrico e de tração do ônibus elétrico que o fabricante alemão então testava no Brasil.
Em paralelo com esta inglória luta por espaço para a tração elétrica no transporte urbano brasileiro, a Indústrias Villares, por meio de sua Divisão Equipamentos, penetrava com força no mercado de máquinas para movimentação de terra e de materiais, além de pontes rolante e talhas elétricas. Firmando licença de fabricação com a norte-americana P&H, em 1957, no ano seguinte iniciou a produção de escavadeiras mecânicas, draglines e guindastes mecânicos sobre esteiras, chegando em 1966 a três modelos, respectivamente com peso total de 22,1, 35,3 e 72,8 t: 315 (motor Perkins de 90 cv), 525 (Mercedes-Benz de 130 cv) e 955 A (Cummins de 210 cv). Quanto às pontes rolantes, cuja produção foi iniciada em 1959 e em três anos alcançava 100% de nacionalização, mais de 450 unidades haviam sido entregues até 1967. Antes do final da década foram também agregados modelos sobre pneus, com torres de treliça e telescópicas.
Ao final dos anos 70 a gama alcançava duas dezenas de modelos e versões. Os equipamentos sobre esteiras tinham capacidade entre 15 e 95 t e lanças de até 57 m de comprimento; a linha sobre pneus era composta de 12 modelos, entre 12 e 75 t e alcance de até 45 m. As máquinas sobre pneus eram de duas categorias: guindastes hidráulicos ou mecânicos montados sobre caminhão (linha TC) e guindastes hidráulicos 4×4 autopropelidos (linha VG), com cabine fixa ou solidária à lança. Os primeiros eram montados sobre chassis 6×4 Scania, recebendo moderna carroceria da própria Villares e motor Perkins de 107 cv para acionamento do guindaste.
Na década de 80 a Villares teve participação ativa na nacionalização das escavadoras mecânicas pesadas Bucyrus para mineração, tipo dragline, equipando-as com conjuntos motogeradores, painéis de controle e locomoção e demais equipamentos elétricos; a Ishikawajima, responsável pela montagem final, construiu os componentes estruturais.
Ainda na área automotiva, por algum tempo a Villares alimentou o projeto de produzir em série motores a álcool. A empresa já fabricava motores diesel de altíssima potência para embarcações, com até 3.000 cv, mas dessa vez sua intenção era contribuir com o programa federal de economia de petróleo fornecendo unidades a álcool para equipar ônibus urbanos. O projeto, anunciado em 1979, que contava com a tecnologia desenvolvida pelo CTA, previa início de fabricação em 1981. A recessão do início da década de 80, entretanto, inviabilizou também estes planos. Os guindastes hidráulicos permaneceram em produção até a década seguinte, quando foram inviabilizados pela abertura das importações do governo Collor.
- Propaganda em jornal de fevereiro de 1957 para a recém-criada Troleibus Villares S.A. (fonte: Marco Brandemarte).
- A seguir, três gerações de ônibus elétricos no sistema de transporte público de Araraquara (SP), todos elas com componentes elétricos fornecidos pela Villares; nesta foto, trólebus Grassi de 1958, ainda em operação mais de 20 anos depois.
- Propaganda conjunta da Caio e Villares, de 1964, anunciando a venda de 130 trólebus para a operadora pública CTU, de Recife (PE) (fonte: Paulo Roberto Steindoff).
- Trólebus Caio/Massari 1977 com componentes Villares.
- Ônibus elétrico Caio/Scania de 1981, também de Araraquara e com componentes Villares.
- Trólebus Villares com chassi Scania e carroceria Caio fornecido à operadora pública de Ribeirão Preto (SP) na década de 80 (foto: Allen Morrison; fonte: Ivonaldo Holanda de Almeida).
- Três trólebus Caio-Villares embarcam passageiros no Terminal Carlos Gomes, em Ribeirão Preto (foto: Jorge Françoso de Moraes; fonte: Ivonaldo Holanda de Almeida / trolebusbrasileiros).
- Após a desativação do sistema eletrificado de Ribeirão Preto, em 1999, seus trólebus foram adquiridos pela Prefeitura de Recife (PE) (fonte: Ivonaldo Holanda de Almeida / trolebusbrasileiros).
- Protótipo de trólebus articulado Caio/Villares projetado para a CMTC.
- Escavadeira mecânica P&H-Villares 315, equipada com motor Perkins de 90 cv.
- Guindaste mecânico Villares P&H 320, com motor Perkins de 107 cv e capacidade de 20 t (fonte: site clasf).
- Guindaste 320, equipado como "dragline", operando em Porto Alegre (RS) em 2010 (fonte: site portoalegre.olx).
- Villares P&H 320 (fonte: site companytractor).
- Guindaste Villares P&H 320 com lança de 18 m (fonte: site maquinasusadasbr).
- Escavadeira mecânica Villares P&H 525, exportada para a Argentina em 1965 (fonte: Visão).
- Guindaste 525 tipo "dragline" com lança de 18 m, para 25 t (fonte: site guindastestheodoro).
- Guindaste Villares P&H 955, para 95 t (fonte: site equiparloc).
- Guindastes sobre esteiras Villares em propaganda de setembro de 1971.
- Guindaste Villares P&H 525, para 50 t (fonte: site equiparloc).
- Guindaste 40VG 1989, para 40 t, com cabine móvel, lança de 24 m e jig adicional de 9 m (fonte: site sp.olx).
- Guindaste hidráulico 20VG de 1982, para 20 t (fonte: sp.quebarato).
- À frente, guindaste hidráulico 22VG (22 t), com lança de 20 m e cabine acoplada à lança giratória, operando no Peru (fonte: site inversionessantarosa).
- Guindaste 22VG (fonte: site anapolis.olx).
- Guindaste 22VG (fonte: site sp.quebarato).
- Publicidade de janeiro de 1973 mostrando as duas mais modernas gruas telescópicas sobre pneus da Villares.
- Grua mecânica Villares 650 V-TC para 50 t, com motor de 215 cv e lança de 61 m, construída em 1978 (fonte: Jorge A. Ferreira Jr.).
- Grua mecânica 425 TC, para 25 t (fonte: guindastessantamonica).
- Grua mecânica 425 TC no acervo do Museu Militar Brasileiro, de Panambi (RS) (foto: Atos Fagundes / Classic Show).
- Guindaste 425 TC (25 t) na versão hidráulica.