TEREX |
Divisão de equipamentos para construção pesada criada pela General Motors em 1968, após ver-se obrigada a se desfazer da Euclid por força da legislação anti-trust dos EUA. No Brasil, a GM soube aproveitar as oportunidades geradas pelas grandes obras de infra-estrutura dos anos do “milagre econômico” e, com o peso da sua marca, quase de imediato assumiu a dianteira na venda de máquinas pesadas no mercado interno (cerca de 200 foram importadas em 1971, das quais 80 motoscrepers e 70 caminhões fora-de-estrada).
A Terex foi uma das primeiras empresas estrangeiras a atender ao apelo do governo para a nacionalização de equipamentos pesados, já no início de 1972 tendo apresentado carta de intenções ao CDI nesse sentido. A cidade escolhida para sediar a fábrica foi Contagem (MG), em parte pelo fomento desde 1970 realizado pelo governador mineiro, mas principalmente pelos incentivos oferecidos à empresa pelo Estado e Município – doação do terreno e infra-estrutura e dez anos de isenção de impostos (até o galpão da indústria seria construído pelo Estado, segundo anteprojeto e especificações da GM). Seus planos compreendiam a fabricação de toda a linha de produtos, com meta de 50% de nacionalização (em peso) e 500 unidades/ano em 1974, começando por caminhões para 20 e 35 t, seguidos de motoscrapers, carregadeiras e tratores de esteiras.
Em agosto de 1973 foi apresentada a primeira máquina Terex fabricada no país, o scraper TS-14B (dois motores Detroit de dois tempos, com seis cilindros e 144 cv, seis marchas e 15,3 m³ de capacidade), logo acompanhado do caminhão fora-de-estrada R-22, ainda construídos componentes importados em instalações provisórias em Belo Horizonte (que, ampliadas e oficialmente inauguradas em outubro de 1975, viriam a ser definitivas). O caminhão, com capacidade para 22 t (ou 14 m³), possuía motor Detroit de 238 cv, câmbio de seis marchas com engate automático, conversor de torque e retardador de frenagem, tração traseira, suspensão independente por molas helicoidais na frente e feixe de molas atrás, freios pneumáticos a tambor e direção hidráulica. A cabine recebia isolamento acústico reforçado e vidros de segurança.
Dois outros veículos foram lançados em 1975: o terceiro produto brasileiro da marca – a pá carregadeira 72-51, da categoria de 17 t, com 194 cv e capacidade de 3,06 m³ – e seu segundo caminhão, o modelo R-35, para 22 m³ e 35 t, inicialmente equipado com motor Detroit V12 de 394 cv importado, em 1980 substituído por um Scania nacional de 382 cv (quando passaria a se denominar R-35C). Os dois caminhões se assemelhavam na arquitetura básica.
Em 1976, quando toda a linha de produtos (exceto a pá) já alcançava 80% de conteúdo local, a Terex colocou no mercado mais um modelo de scraper, TS-24, para 24 m³, com dois motores Detroit de dois tempos (V12 de 394 cv, no trator, e V8 de 266 cv na unidade de raspagem), e caixa semi-automática de seis marchas. Utilizando a mesma unidade tratora, foi também disponibilizado um veículo de transporte e aspersão de água, próprio para manutenção de estradas de serviço em grandes construções. O equipamento compreendia tanque de 39 mil litros e bomba com vazão de 2.600 l/min (apenas o trator era motorizado).
Naquele ano a empresa iniciou a expansão da fábrica, visando duplicar a capacidade, incrementar o índice de nacionalização, viabilizar o aumento das exportações (então na casa dos 10%) e introduzir novos produtos no mercado. Em 1977, fabricou sua 1.000ª unidade no país. Contudo, apesar das expectativas e do plano de expansão, somente na segunda metade de 1978 novo equipamento seria lançado: em agosto, na I Fenacon – feira de construção pesada paralela à I Brasil Transpo –, foi mostrado o novo caminhão 33-09, para 55 t e 41,6 m³, anunciado dois anos antes. Apresentando 73,5% de nacionalização (em peso), tinha motor Detroit V16 de 624 cv e caixa totalmente automática, ambos importados, retardador, suspensão com cilindros de nitrogênio-óleo de carga variável (independente na dianteira), direção hidrostática, freios a ar com circuitos independentes e, como opção, ar condicionado.
Também o projeto da pá carregadeira foi atualizado, sendo o modelo anterior substituído pelo 72-52, maior e mais potente, com motor turbo Cummins de 224 cv, freios a disco nas quatro rodas e caçamba com 3,4 m³ de capacidade. Sempre em 1978, além de receber algumas melhorias mecânicas, o scraper TS-24 ganhou carroceria mais moderna, ao estilo do modelo menor. Por fim, ao receber transmissão semi-automática de seis marchas, o caminhão R-22 passou a chamar-se R-22B.
Em setembro de 1980 a GM surpreendeu o mundo dos negócios com a venda mundial da Terex para o grupo alemão IBH. Fundado em 1975, o IBH crescera rapidamente por meio da compra de diversas empresas fabricantes de máquinas de construção; sem estrutura financeira para suportar tantas aquisições, em novembro de 1983 o Grupo teria a falência decretada. Por fatalidade, os novos controladores assumiram a filial brasileira em janeiro de 1981, com o país mergulhado em profunda recessão, com paralisação de obras públicas, cancelamento de licitações e produção de bens de capital em queda.
Inicialmente toda a linha de equipamentos foi mantida em produção pela IBH, com algumas alterações. Com o encerramento da fábrica brasileira da Detroit, os motores de menor porte foram substituídos por unidades Cummins; foi também lançada mais uma versão do moto-irrigador (TT-24), com dupla motorização. O caminhão menor passou a denominar-se R-22C, sendo a seguir substituído pelo reestilizado 33-03B, para 20,0 m³, graças à caçamba maior, equipada com tampa traseira. A pá carregadeira foi atualizada e recebeu o código 72-52B.
A crise, porém, logo alcançou a filial brasileira, que em janeiro de 1982 procedeu à sua primeira – de uma série – de demissões. Quebras inesperadas nas exportações impediriam que a empresa cumprisse suas metas com o Befiex naquele ano. Com o mercado interno paralisado e enorme ociosidade, a Terex começou 1983 com a força de trabalho reduzida a menos de 1/3. Para ocupá-la, passou a aceitar encomenda de serviços de caldeiraria, usinagem e mecânica pesada, chegando a fornecer chassis e estruturas para viaturas militares da Avibrás e Engesa.
O ano de 1983 se encerrou, portanto, com o Grupo IBH em processo de liquidação. A filial brasileira se manteve em operação, administrada por um quadro de brasileiros nomeado pelo síndico da massa falida. (Em poucos meses, a importante filial escocesa da Terex seria comprada de volta pela GM, enquanto que a Daimler-Benz adquiria da IBH sua unidade de veículos comerciais Hanomag.) O mercado se mostrou um pouco mais favorável, em 1984, e a fábrica mineira retomou lentamente o ritmo de produção. As vendas externas voltaram a crescer, inclusive pela demanda por modelos – como os caminhões fora-de-estrada de menor porte – dos quais a Terex do Brasil passara a ser a única fabricante.
No início de 1985 foi fechado um acordo entre a empresa, a GM e um conjunto de bancos brasileiros, segundo o qual estes assumiriam as dívidas da Terex, que assim se desvincularia definitivamente do Grupo IBH, afastando o risco iminente de falência. Em paralelo, a empresa brasileira ganhou o direito de uso da marca, permitindo-lhe manter-se em produção regular.
A ociosidade permanecia elevada, contudo, e a Terex procurou novos caminhos. Uma das saídas encontradas foi a fabricação de veículos militares, setor que na altura ainda vivia momentos pujantes. Aproveitando-se da rede de relações criada nos anos do “milagre” e da experiência adquirida no fornecimento de componentes para Avibrás e Engesa, construiu dois protótipos para o Exército: uma caminhonete de ¾ t (UAI M1-34) e um caminhão de 4 t (UAI M1-50), este fabricado em pequena série de cerca de 80 unidades. O primeiro, concebida para uso múltiplo (transporte, ambulância, reconhecimento, comando ou rádio), tinha motor diesel Perkins de 85 cv, caixa de cinco marchas e tração nas quatro rodas, podendo tracionar até 1 t. Apenas um protótipo foi construído. O caminhão tinha tração 6×6, motor Scania turboalimentado de 209 cv, caixa de seis marchas e suspensão por feixes de molas, do tipo boogie na traseira. Ambos possuíam direção hidráulica e cabine com capota de lona e para-brisa rebatível.
A derrocada do setor bélico nacional na segunda metade da década de 80 fecharia mais esta porta para a Terex brasileira. Em 1985 a empresa ainda fazia planos de recuperação: pretendia lançar duas pás de menor porte, um scraper para 10 m³ e um modelo intermediário de caminhão, para 35 t. Nada disto se concretizou. Sem encontrar comprador, a filial brasileira foi encerrada no ano seguinte.
Nos EUA, já em 1987 a GM revenderia a Terex escocesa para a Northwest Engineering, grupo empresarial de história recente, que teve crescimento exponencial a partir de 1985, quando assumiu o controle da Bucyrus-Erie e, no ano seguinte, da Koehring. Após a compra da Terex, a Northwest – já sob a nova razão social Terex Corp., assumida em 1988 – continuaria sua política agressiva de aquisições, absorvendo importantes fabricantes internacionais de equipamentos de construção e movimentação de materiais: Unit Rig, Fruehauf, Clark Material Handling (mais tarde repassada para um grupo coreano), divisão de mineração da O&K, Payhauler, CMI, Genie e Demag Cranes. A Terex é hoje o terceiro maior grupo mundial do setor.
A empresa retornou ao Brasil como fabricante em 2001, através de sua subsidiária CMI, ao adquirir a empresa Cifali e Cia., de Cachoeirinha (RS), tradicional fabricante de máquinas de pavimentação, com carteira composta de grande variedade de equipamentos fixos, tracionados, embarcados e autopropelidos. Sob a razão social Terex Cifali Equipamentos Ltda., a linha de máquinas da Cifali permaneceria em produção por mais cinco anos, inicialmente como CMI-Cifali, só em 2006 passando a receber a marca e as cores da Terex.
Nesse meio tempo, porém, novos modelos foram incorporados, como a linha 400 de vidroacabadoras compactas, para largura de pavimentação de até 4,0 m. Lançada em 2002, trouxe diversos melhoramentos, sendo os principais a possibilidade de conversão do sistema de tração em pleno local de trabalho, de esteiras para pneus (e vice-versa), e a mesa extensível hidráulica (entre 2,5 e 4,0 m), facilitando muito o transporte da máquina; com esta solução a máquina passava a caber em containers (para operações de exportação) e em semi-reboques normais (dispensando a exigência de licença especial nos deslocamentos rodoviários). Disponível em três versões (400, 411 e 421), tinha transmissão hidrostática, direção por joystick, depósito de asfalto para 11 t e toldo de proteção do operador com altura ajustável.
Em 2006 a Terex Corp. redefiniu o papel de sua filial brasileira, tornando-a um dos centros mundiais de fornecimento de equipamentos de pavimentação. Após alterar a razão social para Terex Roadbuilding Latin America e definitivamente adotar a identidade mundial da marca nos produtos nacionais, lançou as novas Séries 600 e 700, com as mesmas vantagens apresentadas pela Série 400, porém com 6,0 e 7,5 m de largura de pavimentação e motor diesel Cummins de 117 e 154 cv, respectivamente. A Série 400, por sua vez, foi modernizada, sendo oferecida com três opções de motor: MWM de 73 cv (de série) ou Cummins de 76 e 100 cv.
Duas importantes novidades foram apresentadas na feira M&T 2009: a acabadora VDA 700SM, com motor Cummins de 154 cv, transmissão hidrostática direta nas esteiras, mesa extensível hidráulica para até 4,9 m (ou 5,5 m, com extensão mecânica), depósito de mistura para 12 t, moderno sistema de comando hidráulico e controle eletrônico de acabamento, assegurando novo padrão de qualidade do piso. O segundo lançamento foi a fresadora de asfalto de pequeno porte PR 260, para desbaste de até um metro de largura, desenvolvida em conjunto pelas fábricas do Brasil e EUA. Entre suas características marcantes estavam: motor Cummins de 250 cv, sistema de direção eletro-hidráulico por joystick atuando sobre três lagartas (dianteiras e traseira direita), nivelamento hidráulico automático, esteira transportadora frontal (operador e máquina trabalham de frente para o caminhão que recebe os resíduos), esteira articulada para reduzir o comprimento de transporte, ferramentas de fresa de alto rendimento, retirando até 30 cm de espessura em uma única passada, e sistema rápido de troca de ferramentas de corte.
Em 2012, por fim, dando mais um passo no lento processo de diversificação da produção nacional, a Terex iniciou a montagem no país, com componentes importados, da grua sobre pneus RT 555 Progress, para terrenos difíceis. Equipada com motor Cummins de 185 cv, tração 4×4, dois eixos direcionais e caixa de seis marchas com conversor de torque, tinha capacidade para 50 t e lança telescópica com alcance de quase 34 m (ou 50,9 m, com extensão).
O excelente desempenho econômico do país na primeira década do novo século trouxe ótimos resultados para a empresa: entre 2009 e 2010, em plena retração mundial, enquanto que seus negócios internacionais regrediam 50%, a Terex cresceu 15% no Brasil. Tal desempenho levou a empresa a anunciar, em 2010, a decisão de construir nova planta no país, em Guaíba (RS), em terreno anos antes destinado à Ford (que acabou por se instalar na Bahia). Com capacidade dez vezes maior do que a unidade de Cachoeirinha, ali seriam também fabricados produtos de outras linhas, inicialmente com cerca de 40% de nacionalização, progressivamente crescendo até 60%, para obter financiamento da Finame.
Apesar dos planos ambiciosos e das boas perspectivas, no entanto, por conta de novas mudanças em suas estratégias globais, em fevereiro de 2013 a Terex Corp. se desfez de seus negócios de pavimentação, vendendo a linha brasileira de usinas, fresadoras e vibroacabadoras para o grupo francês Fayat, controlador da Bomag e Marini (a nível mundial, o segmento de caminhões foi vendido para a Volvo VCE). Assim, a empresa norte-americana mais uma vez abandonava a produção local e voltava a comercializar no país apenas máquinas importadas, de diversas categorias e procedências, tais como pás carregadeiras alemãs, retroescavadeiras francesas e mini-carregadeiras norte-americanas.