> > > SULAMERICANA

SULAMERICANA | galeria

Fundada no início da década de 60 em Poá (SP), desde o início a Sulamericana Carrocerias Ltda. se dedicou à transformação de veículos. Suas primeiras carrocerias foram construídas em 1962, por encomenda da Ford, pela qual, duas décadas depois, seria homologada como fabricante, vindo a ter direito de receber picapes “0 km” e garantia diretamente da fábrica. Cabines-duplas, ambulâncias, furgões e carros de polícia eram os modelos usualmente fabricados sobre as picapes F-100. Em 1966 também passaria a trabalhar com picapes Chevrolet, embora por mais de 15 anos sua atividade principal fosse a construção de veículos blindados para transporte de valores e uso policial ou militar. Além desses, produzia capotas de aço para jipes.

Geralmente montadas sobre caminhões médios Chevrolet, Dodge ou Ford, as carrocerias dos carros para transporte de tropa tinham característica secção hexagonal, dispondo de um sistema de blindagem ainda primitivo, composto de três chapas de aço intercaladas por compensado de madeira. Os veículos podiam ser adaptados para outras funções, tais como ambulância, transporte de munição e posto de comunicações.

Dentre os veículos especiais fabricados na década de 70, dois merecem destaque: um carro de comando sobre picape Dodge D-100, com três eixos, tração positiva 6×4, fundo protegido por chapa de aço e para-choques removíveis, que podiam se transformar em pranchas para a travessia de terrenos desconexos; e o blindado Netuno, montado sobre caminhão Scania LK 141, para combate a distúrbios urbanos, dotado de dois canhões de água (giro de 360° e alcance de 30 m), tanque para 11.600 litros e cabine-dupla para quatro tripulantes, com vidros à prova de bala protegidos por grades, ar condicionado e sistema de choque de baixa amperagem para evitar a invasão do veículo.

No início da década de 80, com a explosão da demanda por personalizações e picapes transformadas, a Sulamericana passou a dar mais atenção ao segmento, levando-a, em pouco tempo, a abandonar as atividades anteriores. Antes disso, porém, projetou um automóvel esportivo, ao qual deu o nome Mirage, do qual construiu poucas unidades. Utilizando toda mecânica do Opala de seis cilindros e 4,1 litros, o carro tinha carroceria moldada em plástico reforçado com fibra de vidro, grupos óticos do Monza, lanternas traseiras do Volkswagen Apollo e, na tampa da mala, aerofólio e o para-brisa escondido por uma grelha plástica na cor preta. No interior, bancos e volante esportivos e painel acolchoado equipado com onze mostradores circulares.

Em 1981, pela primeira vez a Sulamericana participou do Salão do Automóvel, onde mostrou suas cabines-duplas GB Special para Ford F-1000 e Chevrolet D-10, modelos de duas portas bem acabados, fabricados em chapa de aço, mas ainda convencionais e sem arroubos estilísticos. Como regra do setor, os veículos podiam receber equipamentos variados, desde tampão marítimo (novidade na época) até para-choques reforçados e quebra-mato.

Rapidamente a empresa diversificou a linha e avançou no mercado. Em 1983 lançou nova versão da cabine-dupla, com janelas ultrapassando a linha da cintura, teto solar, bancos dianteiros individuais, console central e sofá-cama com 1,8 m de comprimento, e a caminhonete Summer, também com janelas panorâmicas, teto semi-elevado, porta traseira em duas folhas, de abertura horizontal, capa de proteção de fibra para o pneu estepe, montado externamente, e bagageiro no teto com escada traseira de acesso. Naquele ano a Sulamericana também iniciou a transformação de veículos Volkswagen.

Modelos radicalmente novos foram lançados em 1984, começando pela van Poá Caravelle, sempre sobre mecânica Ford; desta vez, porém, a carroceria era totalmente nova, da picape sendo utilizado apenas o chassi. O carro tinha painéis laterais e portas estampados em chapa de aço, diversos outros componentes moldados em plástico reforçado com fibra de vidro (capô, grade e teto) e novo para-brisa; cada uma das lanternas traseiras foi engenhosamente formada pela união de duas lanternas do Ford Pampa, montadas frente a frente. Possuía apenas uma porta de cada lado, além de duas portas traseiras com abertura vertical. O pneu de reserva (protegido por uma capa de couro) foi montado externamente sobre suporte tubular articulado; uma escada móvel podia ser encaixada na traseira para alcançar o bagageiro do teto. O posto de direção foi elevado e avançado em cerca de 40 cm, levando à mudança do formato do capô, curto e alto. Com acabamento de luxo, recebeu quatro bancos individuais giratórios com apoio para os braços, um banco traseiro inteiriço que se transformava em cama, console central com geladeira, revestimentos de veludo, dois aparelhos de ar condicionado (um para cada ambiente), sistema de som e televisão.

Meses depois a Poá Caravelle deu origem à cabine-dupla GB Fly, mostrada no XIII Salão do Automóvel. Na mesma oportunidade foi lançada nova versão da cabine-dupla tradicional, chamada Airplane, com duas janelas panorâmicas de cada lado. A empresa aproveitou o ensejo para dar um nome ao modelo anterior: Jet. No ano seguinte, a van ganharia mais um descendente, a picape Buffalo, com caçamba 50 cm mais longa do que a da picape Ford.

Até então, fruto do apoio que recebia da Ford, a Sulamericana vinha se dedicando quase que com exclusividade à mecânica da marca – em 1985, a seu pedido, passou inclusive a fornecer-lhe cabines-duplas para caminhões F-11000, vendidos como originais Ford. Naquele ano, contudo (quando a produção atingia 85 veículos/mês), passou a dedicar maior atenção à linha Chevrolet e, num revival de seu GT Mirage de 1980, lançou a cabine-dupla GB Mirage, simples e elegante, de estilo limpo e discretas janelas panorâmicas. Também realizou suas primeiras transformações sobre carros Fiat.

Para 1986 o estilo das tradicionais cabines-duplas Ford Jet e Aeroplane foi atualizado, o teto semi-elevado e os vidros traseiros faceados com as laterais, assim aumentando o espaço interno; os novos veículos foram chamados Guerrero e Airplane II. Também foi preparada uma caminhonete sobre a picape Chevrolet alongada, de estranha aparência e desenho mal resolvido, à qual foi dado o nome Aerovan: longa, com apenas duas portas, alternava estreitas janelas panorâmicas com amplas superfícies sem janelas, a desproporcionalidade entre larguras e alturas sendo especialmente agravada pela faixa escura que percorria todo o rodapé do carro.

Diversas novidades foram preparadas para 1987, duas delas de menor importância: a cabine-dupla Mirage com teto levemente elevado, rebatizada Buchalla (sobrenome do proprietário da empresa…), e a Guerrero 87, onde grade, faróis, capô e para-choques foram trocados por outros de desenho mais atual. Mais interessante foi a primeira blazer da empresa, chamada Delta. Externamente se diferenciava da concorrência pelos amplos vidros laterais e pelo acesso ao bagageiro traseira em duas partes, de abertura horizontal: uma tampa inferior em plástico reforçado e uma superior totalmente em vidro temperado. O interior vinha totalmente equipado: além de bancos individuais e sofá-cama, ar condicionado com quatro saídas no teto, luzes de cortesia direcionais, painel com o mesmo revestimento dos bancos, console com geladeira, relógio de quartzo, sistema de som em console no teto e vidros (verdes) elétricos. Também lançada como modelo 87 foi a picape Safari, uma F-1000 com cabine alongada, santantônio com faróis de longa distância, novos para-choques, dois galões para combustível e dois pneus estepe montados na tampa da caçamba. Modelo inédito foi mostrado no ano seguinte, o primeiro da Sulamericana com mecânica Volkswagen: uma picape Saveiro com cabine dupla, tampão marítimo, racks no teto e grade e faróis alterados, batizada Surf.

A linha de produtos pouco mudou nos anos seguintes. Em 1990, quando já se esboçava a grande crise que extinguiria quase toda a indústria brasileira de foras-de-série, a empresa lançou a “nova” cabine-dupla Mônaco para a picape F-1000, simplesmente uma versão atualizada da Airplane II, sem elevação no teto, dotada de persiana fixa sobre o para-brisa traseiro, faixas laterais em relevo e novos para-choques de plástico reforçado. A Sulamericana ainda esteve presente no XVI Salão do Automóvel (em 1990) e na VII Transpo (1991), nesta apenas com as cabines-duplas Mônaco e Mig. Em 1994 já deixara de lado a produção de veículos “de passeio”, só raramente fabricados sob encomenda, voltando a priorizar o fornecimento de ambulâncias e viaturas para a polícia. Poucos anos depois a empresa encerrou as atividades.





GmailFacebookTwitter