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Primeira indústria de automóveis do Nordeste, a Selvagem é criação de Marcos José Oliveira das Neves, autodidata que hoje fabrica um dos melhores buggies do Brasil e o mais vendido nos estados da região.

Marcos começou a lidar com mecânica no início da década de 50, aos 12 anos de idade, ajudando o pai a reformar caminhões da II Guerra estacionados nas bases militares de Natal (RN). Em 1967 abriu sua própria oficina na cidade vizinha de Parnamirim e em 1973, por solicitação de um amigo, construiu seu primeiro carro. Especialmente projetado para escalar as dunas do Rio Grande do Norte, era uma espécie de gaiola com estrutura tubular e carroceria de chapas de alumínio montada sobre plataforma Fusca Volkswagen, sem cortes. O veículo chamou atenção e algumas unidades foram vendidas, o que levou à decisão de preparar um novo projeto, agora com carroceria moldada em plástico reforçado com fibra de vidro, e criar uma empresa especialmente para fabricá-lo.

Sediada em Parnamirim com o nome Oliveira & Neves Ltda., passou a construir um buggy robusto e muito bem acabado com quatro lugares, inicialmente comercializado com o nome ONN-600. Compacto, utilizava plataforma VW (1300 ou 1600) com entre-eixos encurtado em 30 cm e balanços reduzidos ao mínimo. O motor era totalmente protegido, contando com entradas de ar para ventilação nas saias laterais. Desde então a firma assumiu duas rígidas posturas negociais, que até hoje prevalecem: jamais vender kits para montagem pelo comprador e, no caso de utilização de plataforma usada, obrigatoriamente proceder à prévia e completa revisão e restauração mecânica do veículo. O carro foi um sucesso entre os bugueiros da região, destacando-se da concorrência pela resistência e qualidade da assistência técnica prestada pela fábrica. Em 1976 a O&N obteve da Volkswagen o reconhecimento como construtora, passando a receber diretamente da fábrica plataformas e motores 0 km, podendo assim estender aos compradores de seus produtos a garantia e os serviços de manutenção fornecidos pela rede autorizada VW.

Em 1986 a razão social da empresa foi alterada para Selvagem Indústria & Comércio Ltda., quando os buggies ganharam o novo nome pelo qual ficariam famosos. No início da década de 90 foi lançado novo modelo, Selvagem S, com o mesmo comprimento e algumas alterações na carroceria: faróis retangulares, capô mais alto (formando um porta-malas mais amplo e com tampa maior), eliminação das entradas de ar laterais e dos terminais traseiros dos para-lamas e capota conversível protegendo todo o compartimento de passageiros (anos depois seria também oferecido teto de fibra). O modelo antigo foi mantido em linha com o “sobrenome” L.

Somente em 1992, com o encerramento da produção do Fusca, a Selvagem projetou seu primeiro chassi. Utilizando os mesmos órgãos mecânicos e trazendo desenho bastante semelhante ao original VW, tinha estrutura periférica tubular, túnel central reforçado de seção quadrada e piso moldado em fibra. Em paralelo com o modelo tradicional, a Selvagem ensaiou a produção de dois veículos maiores, não concretizados: uma van “tipo Kombi” e uma caminhonete com motor dianteiro, ambas com chassi próprio e mecânica VW.

Com a dificuldade crescente de obter mesmo junto à Volkswagen os elementos mecânicos tradicionais para seus buggies, a Selvagem principiou, já no novo século, o projeto de carros com suspensões mais modernas e motores refrigerados a água. Em 2004 a empresa introduziu um novo carro, em duas versões: Sol (com quatro portas) e Sol S (mais curta, sem portas). Modelos inéditos, com visual e concepção completamente diversos de tudo o que havia fabricado até então, os carros tinham maior parentesco com jipes do que com buggies, dos quais supostamente derivavam. Assim, embora ainda dispusessem de motor traseiro (VW 1600 a ar ou 1.4 flex refrigerado a água) e carroceria de fibra de vidro, tinham estrutura tubular monobloco, integrando chassi, quadro do para-brisa e santantonio, assoalho e estribos em chapa de alumínio xadrez, suspensão independente nas quatro rodas (McPherson na frente e molas helicoidais atrás). Nas versões refrigeradas a água o radiador era montado na dianteira. O vão livre do solo era de 23 cm. O acabamento, como tradição da marca, era excelente, com requintes tais como fechaduras e dobradiças de aço inoxidável, marca “Selvagem” gravada a fogo no estofamento e na capota conversível (tudo de fabricação própria), janelas plásticas fechadas com ilhoses e fecho-éclair, tapetes de tecido, apoios para cabeça e cintos de segurança para os cinco passageiros.

O buggy Selvagem S permanece em produção até hoje, com pequenas alterações estéticas mas persistindo na mecânica VW refrigerada a ar com suspensão por barras de torção. Novo modelo foi lançado em 2013, o Selvagem HL, situado entre o S e o Sol: dotado de chassi tubular com túnel central e assoalho em alumínio, suspensão por molas helicoidais, motor traseiro Gol 1.4 com radiador na dianteira e quatro faróis circulares, tem capacidade para cinco passageiros.

A fábrica de Parnamirim é altamente horizontalizada, produzindo (com matérias primas de qualidade) mais de 60% dos 5.000 itens que compões os veículos. Seus produtos são caros – dos mais caros do país, na categoria. A qualidade, entretanto, faz a diferença e garante a permanência da marca como uma das mais vendidas e desejadas no Nordeste.

<selvagembuggy.com.br>





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