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Principal fabricante de implementos rodoviários da América Latina e um dos maiores do mundo, a Randon teve origem na oficina de manutenção de motores industriais criada em 1949, em Caxias do Sul (RS), pelos irmãos Raul Anselmo e Hercílio. Oficialmente constituída em dezembro 1952, com o nome Mecânica Randon Ltda., a pequena empresa foi instalada na antiga forjaria onde o pai, Abramo, labutara desde a década de 30.

A partir de então, em paralelo com as atividades de manutenção, em 1965 os irmãos iniciaram o desenvolvimento e construção regular de componentes mecânicos para caminhões – freios pneumáticos, freios a vácuo e 3º eixo – até entrarem, dez anos depois, no ramo de fabricação de semi-reboques para cargas secas e líquidas, no qual se firmariam e alcançariam projeção nacional. A Randon experimentaria exponencial crescimento nos anos 60. Ao final da década contava com 1.300 empregados, mais de 70 modelos de reboques, uma filial industrial em São Paulo e ações negociadas em Bolsa. Em 1972 realizou suas primeiras exportações e no ano seguinte completou seu 5.000º semi-reboque.

Em 1974 a empresa abriria nova e importante frente de atuação – a fabricação de veículos completos – tornando-se a primeira indústria automobilística do Rio Grande do Sul: aquele foi o ano do lançamento, em setembro, do caminhão fora-de-estrada RK-424, fabricado sob licença da sueca Kockum. Com capacidade para 23 t (ou 18,3 m³), estava equipado com motor e caixa de câmbio Scania (275 cv, cinco marchas com reduzida), suspensão dianteira por feixe de molas, eixo traseiro flutuante fixado ao chassi, freios pneumáticos com circuitos independentes e direção hidráulica. A cabine de aço, isolada térmica e acusticamente, era apoiada em três amortecedores. A velocidade máxima era 50 km/h e o raio de giro 7,8 m.Com índice de nacionalização de 53,2%, o veículo foi apresentado como basculante, logo ganhando a versão cavalo-mecânico, preparada para tracionar semi-reboques fora-de-estrada com descarga de fundo (bottom-dump), implemento que a própria Randon também passaria a produzir.

Com o lançamento do caminhão, a Randon deu partida a nova política de diversificação, procurando atender nichos de mercado e ocupar espaços ainda não atendidos pela concorrência. Assim, ainda em 1974 forneceu para a Marcopolo reboques para receber carrocerias de ônibus, formando composições apelidadas Romeu e Julieta. Em 1976 associou-se à francesa Nicolas, especializada na produção de veículos para cargas extrapesadas, participando com 55% do capital da nova empresa, denominada Randon-Nicolas S.A. Máquinas e Produtos Industriais. A Nicolas chegara havia pouco ao país, construindo em Nova Iguaçu (RJ) uma planta para a fabricação de semi-reboques com capacidade superior a 130 t, suspensão hidropneumática regulável por meio de almofadas de elastômero com água e glicerina, eixos múltiplos com até 40 pneus por conjunto e direção em todos eles. Os equipamentos por ela produzidos atingiriam índice de nacionalização de 90%. A médio prazo também se procedeu à construção de plataformas automotrizes para cargas indivisíveis.

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São Randon os caminhões fora de estrada mais vendidos no país; na foto, dois RK-424 de 1976, em 2015 colocados à venda no Paraná (fonte: site caminhao.mercadolivre).

Em 1977 a Randon assumiu o controle da concorrente Rodoviária, que se encontrava em regime de concordata (a fábrica de carrocerias de ônibus Nimbus, de propriedade do Grupo Rodoviária, foi repassada à Marcopolo). Ainda na linha da diversificação, no início da década seguinte a Randon lançou conjuntos de 3º eixo para ônibus e construiu, ainda que em pequena quantidade, diversos novos produtos: veículos automotores para o abastecimento de combustível em aeroportos, carrocerias de ônibus sobre semi-reboques para transporte de grandes contingentes de trabalhadores, como em obras de infraestrutura (equipamento que chamou “vagão sobre pneus”), e escavadeiras contínuas para abertura de túneis em minas de carvão, estas com tecnologia da austríaca Voest-Alpine.

Os anos 70 foram um período de grande progresso para a empresa, que já conquistara 60% do mercado nacional de implementos. Então já dispunha de linhas de montagem em vários estados, apenas em Caxias do Sul empregando 3.750 trabalhadores. A produção quadruplicou e as exportações foram multiplicadas por 20. Seu faturamento e lucro líquido eram mais de três vezes superiores aos da Recrusul, a segunda empresa do setor. Tal desempenho impediu que sofresse, de imediato, os efeitos da violenta recessão que quase paralisou a economia do país no início dos anos 80.

Ao contrário. Encarando a crise como oportunidade, manteve o ritmo dos lançamentos. No segmento de veículos, aproveitou o encerramento do acordo de cooperação de cinco anos com a Kockum para desenvolver sua própria linha de equipamentos, logicamente fundamentando-se na sua experiência com os quase 400 RK-424 até então produzidos. Em 1980 projetou e lançou um reboque bottom-dump específico para o transporte de carvão mineral. Tracionado pelo cavalo-mecânico RK-424-CM, era de maior porte do que o modelo em produção, preparado para o transporte de terra em canteiros de obras. Com 12,0 m de comprimento e capacidade para 48 t ou 43 m3, possuía acionamento pneumático das comportas, em lugar de hidráulico do modelo existente.

No final de 1981 apresentou o modelo RK-435, para 35 t, com 80% de nacionalização em valor (82% em peso). O veículo vinha com duas opções de motor de 401 cv (V8 Scania de 14,2 l ou seis cilindros Cummins de 14,0 l), transmissão automática de cinco marchas com conversor de torque e retarder, freios pneumáticos de duplo circuito, feixe de molas na dianteira, eixo fixo na traseira e direção hidrostática; a cabine, apoiada em quatro pontos, opcionalmente podia receber ar condicionado. Também o antigo modelo de 24 t foi modernizado, aumentando a capacidade de carga para 25 t e passando a chamar-se R-425. Além do motor Scania (agora com 296 cv), foi oferecido um Cummins de 290 cv; a caixa ganhou 16 marchas e a direção passou a ser hidrostática. A cabine foi reestilizada.

Embora tenha tardado um pouco, a crise acabou por envolver a Randon, que em 1982 viu suas linhas alcançarem 50% de ociosidade. A elevação dos gastos industriais aliada à duplicação dos custos financeiros levou-a, em dezembro, a requerer concordata preventiva de dois anos, concedida pela Justiça. A empresa, contudo, já traçara planos para sua recuperação, envolvendo ações de racionalização administrativa e industrial, que incluía a desativação da maioria de suas plantas (em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Paraná – inclusive a Randon-Nicolas), mantendo apenas as de Caxias do Sul, Guarulhos (SP) e Cabo (PE), onde desde 1975 produzia implementos para a indústria canavieira. Ajudada pela resposta favorável do mercado interno e pelo desempenho das exportações, rapidamente a Randon restaurou o equilíbrio econômico e em novembro de 1984, um mês antes do prazo legalmente determinado, levantou a concordata. E, caso raro no mercado, mal saída da crise, imediatamente lançou nova – e bem sucedida – campanha de subscrição de ações para compra de máquinas, ampliação de instalações, desenvolvimento tecnológico e aumento de produtividade.

Naqueles dois anos, enquanto tratava do saneamento financeiro, a Randon elaborava planos para o futuro, que, logo se veria, abririam novas e insuspeitadas áreas de atuação para a empresa. Ainda em 1984 foram lançados seus primeiros guindastes telescópicos montados sobre caminhão – o modelo RN-18, com capacidade de 18 t e alcance máximo de 28 m. Equipado com motor Mercedes-Benz de 198 cv, tinha acionamento hidráulico, cabine para operador e giro de 360° (três anos depois, sob a denominação RK-20, teria a capacidade aumentada para 20 t). No primeiro semestre de 1985 foi a vez do caminhão basculante de perfil baixo RK-422, para lavra subterrânea, com capacidade de 20 t (ou 8,5 m³) e altura de carregamento da caçamba de somente 1,85 m. Primeiro de uma nova família de equipamentos articulados para mineração, apropriado para o transporte de pessoal e carga geral, foi projetado pela própria empresa. Tinha motorização Scania ou Cummins de 220 cv com catalizador, transmissão hidrostática Poclain, atuando sobre cada roda, direção nos dois sentidos, evitando manobras, e freios pneumáticos.

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Raul Anselmo Randon diante do RK-628, primeiro caminhão articulado da marca gaúcha.

Em 1988 a Randon colocou à venda o segundo modelo de semi-reboque especializado para seus caminhões fora-de-estrada, a versão basculante, com descarga traseira (rear dump) e capacidade para 53 t. Mais novidades surgiram no ano seguinte. O caminhão de 35 t ganhou a variante RK-435-N, com freios a disco nas quatro rodas e (para estacionamento) na saída da transmissão, suspensão por cilindros de nitrogênio/óleo de carga variável nos dois eixos (na traseira, fixados a braço tipo “A” centralmente articulado ao chassi) e cabine de fibra de vidro com cinco pontos de apoio. Segundo e mais importante lançamento foi o caminhão articulado RK-628, para 28 t (ou 15,5 m³), primeiro modelo da categoria produzido na América Latina. Mantendo a tradição da marca, duas opções de motores foram disponibilizados: Scania de 259 cv e Cummins de 250 cv; também duas eram as alternativas de tração, 6×4 ou 6×6. De resto, se tratava de projeto bastante atualizado, envolvendo transmissão powershift com seis marchas à frente e três a ré, conversor de torque, freios a disco nas seis rodas e na saída do cardã, suspensão pneumática na dianteira, suspensão traseira tipo boogie com coxins de borracha, diferenciais autoblocantes e direção hidrostática. O veículo podia atingir 53 km/h e vencer rampas de até 35% com carga total.

Novos lançamentos ocorreram em 1991: a versão rebaixada do RK-628, com as mesmas características técnicas e capacidade, porém com altura total 35 cm menor; e, inaugurando sua entrada em novo segmento de mercado, o trator RK-411 (forwarder para 11 t), para o transporte de toras em áreas de exploração florestal. Articulado e com tração nas quatro rodas, era equipado com motor Cummins de 115 cv, transmissão powershift de seis marchas, redução no cubo das rodas, bloqueio de diferencial, freios a disco e equipamento próprio para carga e descarga (importado da Suécia), operado por joystick a partir da cabine.

Em 1992 a Randon inicia um processo de profunda reestruturação administrativa e societária, criando uma empresa holding para gerir os negócios que se multiplicavam. Em 1994 cria a filial argentina (que onze anos depois passaria a montar semi-reboques, importados do Brasil em regime SKD). Um ano antes, associara-se à Carrier, dos EUA, para a fabricação conjunta de sistemas de refrigeração para caminhões e condicionadores de ar para ônibus; em 1995 constitui joint-venture com a alemã Jost para a construção de unidade especializada na produção de 5ª roda e engates; no ano seguinte adquire da Agrale o controle do tradicional fabricante de lonas de freios Fras-le. Com estas últimas ações, a Randon consolidava sua estratégia de ingressar firmemente no setor de autopartes, movimento iniciado em 1986 com a criação da Freios Master, em associação com a norte-americana Rockwell (atual ArvinMeritor). Tal política seria complementada, em 2002, com a criação da Suspensys, especializada no fornecimento de sistemas de suspensão (também com a ArvinMeritor). Em 2003, por fim, entraria no setor ferroviário, iniciando a produção de vagões de carga com truques fornecidos por terceiros.

Retornando à área de veículos automotores, registre-se, em 1993, a fabricação do 1.000º caminhão fora-de-estrada Randon e, no ano seguinte, o lançamento de mais dois modelos de trator florestal, o RK-610 e 612, com três eixos e tração 6×6, para 10 e 12 t. As características técnicas eram as mesmas do RK-411 (agora reclassificado RK-410), a menos do motor da versão 612 – um Cummins de 124 cv. O eixo traseiro era do tipo tanden com transmissão por engrenagens. Na linha de caminhões, além do modelo de 25 t (a partir de então chamado RK-425B) receber cabine moldada em fibra de vidro e para-lamas planos, foi lançada a versão intermediária RK-430, para 30 t, com motor Scania ou Cummins (311 e 290 cv), caixa mecânica de 16 velocidades (opcionalmente automática), freios pneumáticos a tambor e direção hidrostática. Finalmente, antes de se encerrar o século, foram apresentados outros dois forwarders, RK-812H e 814H, para 12 e 14 t, com quatro eixos, pneus largos de baixa pressão e tração 8×8. Com motor Cummins, tinham transmissão hidrostática, caixa de quatro marchas à frente e a ré e eixos tipo boogie na dianteira e traseira.

Em 2001, na feira M&T, foi lançado o RK 430B (a partir daí sem traço de união entre os códigos), atualização do caminhão de 30 t. O veículo ganhou nova cabine de fibra de vidro, mais espaçosa, chassi reforçado, nova embreagem, freio retardador hidráulico e caçamba com abas laterais de proteção para maior segurança durante o carregamento. No mesmo evento foi mostrado o caminhão fora-de-estrada H325-6, da Komatsu, nacionalizado pela Randon para eventual futuro lançamento pela empresa japonesa, que não chegou a produzi-lo.

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Trator florestal RK-410, um dos vários modelos especializados fabricados pela Randon.

Em 2002 a Randon lançou mais um equipamento inédito em sua linha de produtos, a retroescavadeira RD 406, máquina multiuso adequada para operações de construção, agricultura e serviços públicos, nas versões 4×2 ou 4×4, equipada com motor MWM, de 82 ou 109 cv (aspirado ou turbo) e cabine com ar condicionado, banco e direção ajustáveis e outros itens de conforto, tais como porta-objetos, rádio e conexão para celular. Seu índice de nacionalização, superior a 80%, era o mais elevado da categoria, obtido graças à utilização de sistemas hidráulicos de fabricação brasileira. Mais tarde o trator também seria disponibilizado na versão pá carregadeira.

Em 2006, por fim, foi disponibilizado mais um caminhão de 30 t, o RK 430M, versão “eletrônica” do 430B, que continuava em catálogo e do qual importava todas as características técnicas, a menos do motor Scania de 331 cv com gerenciamento eletrônico e da caixa automática com retarder; opcionalmente, podia ser equipado com tração 4×4. Posteriormente os caminhões articulados e tratores florestais foram modernizados, recebendo cabine e capô do motor com novo desenho; o caminhão 6×6 RK 628, por sua vez, deu origem ao forwarder RK 628CF, com capacidade para 20 t.

Líder de mercado em diversos segmentos dos quais participa, os resultados do Grupo não cessaram de se superar ao longo da primeira década do novo século. Exportando para mais de 100 países das Américas, Europa, África e Ásia, as receitas geradas pelo comércio externo foram multiplicadas por oito, entre 2002 e 2006 – ano em que todas suas unidades fabris atingiam o limite de capacidade. O faturamento bruto de 2007 – recorde histórico – atingiu R$ 3,7 bilhões, 24,4% superior ao ano anterior; o lucro líquido cresceu 30%. Os negócios de autopeças e sistemas automotivos respondem por metade do faturamento do Grupo; seus implementos rodoviários (20.235 unidades) foram responsáveis por mais de 43% do mercado interno, em 2007; os equipamentos fora-de-estrada (434 veículos) por mais da metade. (Veículos florestais e caminhões articulados estão fora de catálogo desde o final da década de 10.)

Raul Anselmo Randon, além de conduzir com equilíbrio e discernimento os destinos do Grupo (seu irmão faleceu em 1989) também se dedica, por diletantismo, ao cultivo de maçãs, á produção de vinhos e à criação do primeiro queijo parmesão tipo grana padano do Brasil.

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