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A Obvio! Automotoveículos S.A. foi criada em 2001, em Duque de Caxias (RJ), com o objetivo de produzir, sob encomenda, automóveis urbanos com tecnologia de ponta. O negócio foi concebido de forma a explorar ao máximo as potencialidades oferecidas pela informática, aplicando-a desde a fase de desenho do veículo até a gestão da linha de fabricação e o gerenciamento das vendas. Tratava-se de uma iniciativa ambiciosa, que visava o fornecimento de automóveis pequenos, porém tecnicamente sofisticados, fabricados sob demanda, mas em grande quantidade, com o mínimo investimento em máquinas e equipamentos.

Os fornecedores se instalariam no terreno da fábrica, onde também seriam alocadas escolas técnicas para o treinamento da mão-de-obra local. A rede de revendas e assistência técnica seria formada por oficinas multimarcas integradas a bancos conveniados, que tratariam do financiamento dos veículos e emitiriam a ordem de produção para a fábrica. Os carros seriam entregues, emplacados e com seguro, diretamente na residência do comprador. Ocupando parte das antigas instalações da FNM, em Xerém, era sua intenção captar recursos de investidores para a produção inicial de 10 mil unidades anuais.

Visando desenvolver a engenharia de produto e estruturar a operação industrial, diversos convênios e acordos de cooperação foram firmados com empresas privadas e instituições públicas, dentre as quais INT, PUC/RJ, Finep (de quem obteve financiamento), Porsche Engeneering Services (subsidiária de consultoria técnica da Porsche alemã) e Oreste Berta (preparador argentino de carros de competição, contratado para projetar o chassi e efetuar os testes aerodinâmicos).

A arquitetura dos carros ficou assim definida: duas portas, três lugares, motor e tração traseiros, transmissão CVT, suspensão dianteira e traseira McPherson e freios a disco nas quatro rodas. A empresa desejava dotar os carros de motores econômicos de alta performance, chegando a imaginar equipá-los com modernas unidades alemãs Weber de dois cilindros, 750 cm3 e 55 cv (ou 130 cv turbo), mas o bom senso prevaleceu e acabou sendo escolhido o motor nacional Tritec (1.6, 16v e 114 cv), que também atendia aos automóveis Mini britânicos. Os carros teriam carroceria monobloco de plástico reforçado com fibra de vidro fornecida pela MVC, integrada ao chassi e à célula de segurança formada por anéis elípticos de material composto, segundo o sistema “anéis de Niess“, patenteados em 1977 pelo pioneiro engenheiro aeronáutico brasileiro Marc William Niess. O design de todos os carros ficaria a cargo de Anísio Campos, um dos quatro sócios proprietários da empresa.

O primeiro modelo apresentado pela Obvio! foi o 828/2, atualização do Dacon 828, projetado por Anísio em 1982. O pequeno carro foi relançado em 2003, com meta de produção de 50 unidades por mês – diz-se que contra a vontade de seu criador, que julgava o modelo ultrapassado. Trazia mecânica Volkswagen (motor 1.6 e quatro marchas, como no modelo original) e pequenas alterações estéticas no painel, faróis e lanternas, mudanças introduzidas pelos alunos do curso de design da PUC. O carro ganhou o 18º Prêmio Design Museu da Casa Brasileira (2004), na categoria Novas Idéias e Conceitos. Enquanto isso, a empresa providenciava novo modelo, o miniesportivo 012 (zero-doze), nele agregando as características técnicas pré-definidas como padrão da marca. Também de autoria de Anísio Campos, o carro era 40 cm mais longo do que o 828/2 (3,05 versus 2,65 m) e teria motor mais potente, em posição central com 163 cv e seis marchas. A Obvio! pretendia lançá-lo até o final de 2005, contando para isso com o retorno financeiro da venda das 50 unidades mensais do 828/2.

Em junho de 2005, quando o projeto 012 ainda se resumia a meros esboços de estilo e uma pequena maquete, a empresa anunciou a assinatura de contrato de exportação de 200 mil carros para os EUA, com duração de cinco anos, começando com 17 mil em 2006 e dois anos depois passando para 50 mil, proeza jamais conseguida por nenhum pequeno fabricante brasileiro de veículos. Ao invés de entusiasmo, a notícia causou ceticismo generalizado, já que a empresa ainda não dispunha de linha de montagem minimamente equipada e até então não havia produzido nada além do protótipo do 828/2.

Em vez de se estruturar industrialmente, a Obvio! preferiu reprojetar totalmente o 828/2, abandonando a mecânica VW pela Tritec e reformulando chassi, estrutura e  carroceria. O carro ganhou portas com abertura “em tesoura”, piso plano, duas mochilas rígidas à guisa de bagageiro e um interior com decoração carnavalesca, quase kitch, que incluía uma tela de computador montada no painel, “permanentemente ligada na internet” (!), e pedais revestidos com sandálias de dedo na cor laranja (!!). Ar condicionado, calefação, “trio elétrico” e sistema de som eram oferecidos como opcionais. O protótipo foi enviado para os EUA e lá exposto. Quanto ao 012, em novembro de 2005 foi oficialmente apresentado seu protótipo não operacional em tamanho real, com desenho modificado (e bastante piorado) com relação ao anteriormente mostrado na maquete.

Em 2007 a Obvio! continuava inoperante. Como seria de supor, ainda não conseguira produzir um automóvel sequer e, muito menos, iniciar as exportações para os EUA. O protótipo do esportivo 012 permanecia não operacional. Naquele ano a fábrica da Tritec foi vendida para a Fiat e, alegando “enormes prejuízos”, a Obvio! ainda ousou processá-la. Em outubro de 2009, desacreditada, a empresa anunciou sua “aquisição” pela Vrooom! Veículos Elétricos, comandada pelos mesmos dirigentes da Obvio!. Mudavam a razão social e o produto, mas as promessas irrealizáveis e o estilo anárquico de gestão permaneceram.

A empresa então transferiu o foco para a construção de carros elétricos, ao mesmo tempo em que ameaçava mudar-se para o México, Costa Rica ou Curaçau, “países com os quais já estamos negociando“, caso até o final de 2010 o governo federal não definisse um programa de subsídios para veículos com tração elétrica. Era sua intenção oferecer o modelo (denominado 828H) em três versões, com 70, 140 ou 200 cv, autonomia de até 500 km e aceleração de 0 a 100 km/h em 4 segundos. Enquanto isso as promessas se multiplicavam: lançamento de “um quadriciclo leve para o mercado brasileiro” em um ano; disponibilização, em dois anos, do 828H; revenda por concessionárias de energia elétrica, com pagamento em 80 vezes cobrado nas contas de luz; exportação para a Europa para utilização compartilhada (car sharing); kits de conversão de carros com motor de combustão interna para elétricos; fabricação de 10 mil veículos por ano na primeira fase e 70 mil a seguir…

Mais uma tentativa surgiu em 2014, em associação com o fabricante de buggies Wake, de São José dos Pinhais (PR). Segundo o novo esquema os carros não mais seriam vendidos, e sim alugados por meio de uma rede de compartilhamento, prática que começava a ser difundida em alguns países. Para tal foi criada a empresa conjunta DirijaJa, que seria a proprietária da frota e responsável pela gestão do sistema. Segundo a Obvio!, o programa seria lançado nas cidades de Curitiba e Rio de Janeiro, com 50 carros cada, e logo seria estendida para São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Caxias do Sul; a médio prazo cada cidade demandaria uma frota de 300 unidades.

Quanto ao 828H, seria fabricado nas instalações da Wake, que também se responsabilizaria pelo projeto da plataforma do carro. Sua bateria e motor elétrico seriam importados “dos EUA, Inglaterra, Canadá e China” e – em coerência com a prática da empresa, tão frequentemente descolada da realidade – “atestados pelo grupo inglês Lotus e pela fabricante americana de veículos elétricos de luxo Tesla“. Os planos compreendiam ainda a produção de um furgão elétrico e um carro para cadeirantes. A menos de um protótipo operacional do 828/2 e um (se desconhece se motorizado) do 828H, mais nenhum outro viu a luz do dia.

Novos sinais de existência da Óbvio! chegariam em 2020, em duas apresentações virtuais em língua inglesa, as duas associadas à nova startup FNM Elétricos. Nelas foi apresentado o novo modelo de negócios comum a ambas: fabricação de veículos elétricos somente por encomenda (“by demand only“) e com contratos de pré-venda; produção 100% terceirizada; ampla utilização de materiais compósitos e da “avançada tecnologia” do nióbio; parcerias com startups e firmas de engenharia de ponta; e inexistência de rede de concessionária (“everything by App“). Os vídeos divulgavam o chassi (integrado a banco de baterias) proposto para os novos carros da marca, com sistema de controle e tração “projetado pela Lotus” e “adaptável a qualquer tamanho de veículo“; dele, a empresa informava que “mais de 500 unidades  foram vendidas na versão a gasolina“. Além do chassi, o material destacava dois modelos: 813 (simplesmente o anterior 828H com nova denominação) e 830, referido como “buggy esportivo de ponta com dois assentos e seis lugares“. En passant foi também informado que o antigo Dacon 828 ganharia uma segunda geração, em 2021, com novo chassi e tração elétrica.

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