Ano de crise econômica internacional, a indústria brasileira de veículos encerrou 2014 com queda de 15,3% na produção e 3.228.532 unidades fabricadas, entre automóveis, utilitários, chassis de ônibus, caminhões e máquinas agrícolas e de construção. Estes números colocam-nos em 8o lugar entre as nações produtoras, com 7,1% do total mundial – ainda assim à frente de todos os países europeus, à exceção da Alemanha. Em 2014 o Brasil perdeu uma posição para o México, importante fornecedor para o mercado norte-americano.
A crise trouxe retração das vendas internas, redução das exportações e, naturalmente, maior cautela dos fabricantes locais com relação a novos produtos. Os programas de investimento de longo prazo, contudo, foram preservados, sem cortes ou adiamentos.
Este cenário mais morno, porém, não impediu que ocorressem alguns poucos e importantes lançamentos, a começar pelo surpreendente Up!, da Volkswagen, seguido pela completa renovação do Honda Fit e City, do Renault Sandero e do Ford Ka. Não menos importante, a Volkswagen também colocou no mercado sua primeira picape leve de cabine dupla e a Troller substituiu seu tradicional jipe por um modelo radicalmente novo.
Três novas plantas foram inauguradas: BMW, em Santa Catarina, Nissan, no Rio de Janeiro (ocasião em que foi colocado em linha o March nacional) e Volare, no Espírito Santo.
Nenhum lançamento inédito ocorreu nos segmentos de ônibus, a menos do primeiro chassi nacional da Iveco, um modelo totalmente convencional, com motor dianteiro, câmbio manual e suspensão por feixe de molas. No segmento de caminhões, a novidade do ano foi a renovação de toda a linha de pesados da Volvo; em paralelo, a Ford trouxe de volta seus modelos leves, retirados do mercado quase três anos antes por não se adaptarem à nova legislação ambiental.
Por fim, encerrando o ano, o Salão do Automóvel trouxe pelo menos três importantes promessas para curto prazo: os SUV Peugeot 2008 e Honda HR-V e o novíssimo Jeep Renagade. (Veja em “Novidades” a matéria de LEXICAR sobre o Salão.)
Volkswagen Up!
Primeiro – e mais importante – lançamento de 2014, o compacto Up! foi oficialmente apresentado em janeiro, na versão de quatro portas, em abril surgindo o duas-portas.
Projeto inteiramente novo, desenvolvido na Alemanha, é o primeiro representante da nova plataforma NSF (New Small Family). Trazendo a última palavra em tecnologia de segurança para a categoria, tornou-se o primeiro veículo brasileiro a atingir nota máxima nos testes de segurança para adultos e crianças do Latin NCAP (mais de 3/4 da estrutura é composta de materiais de alta ou altíssima resistência).
De linhas jovens e atuais, foi disponibilizado em sete versões, com leves diferenças de acabamento e acessórios entre si: Take Up! (a básica), Move Up!, High Up! (com interior bicolor), White Up!, Red Up! e Black Up! (totalmente branca, vermelha ou preta) e Cross Up! (a obrigatória versão falsamente “aventureira”). Com 3,60 m de comprimento, de desenho racional e utilitarista, dispõe de bancos traseiros e porta-malas modulados, permitindo chegar a até 976 litros de espaço para bagagens.
Pequeno automóvel de moderno projeto, é equipado motor flex de três cilindros (999 cm3, 12 válvulas, 75/82 cv), caixa manual de cinco velocidades (opção de câmbio automatizado de acionamento elétrico I-Motion), tração dianteira, suspensão McPherson à frente e por eixo de torção atrás, freios a disco na dianteira, ABS e direção com assistência elétrica.
A versão brasileira difere em diversos detalhes da europeia: 6,6 cm mais longa, portas traseiras com vidros de subir (em vez de basculantes), tampa traseira de aço (em vez de vidro), suspensão 2,6 cm mais alta, três lugares no banco traseiro (em vez de dois) e porta-malas 64 litros maior (285 l, ou 976 l, com o encosto rebatido). O modelo de duas portas tem janelas laterais traseiras fixas, de formato diferente e maiores do que no original europeu.
Volkswagen Red Up!
Novos Honda Fit e City
A Honda encerrou o ano com dois carros totalmente renovados. Em abril lançou o novo Fit, 9,7 cm mais longo do que o modelo anterior. Apresentado em quatro versões (DX, LX, EX e EXL), o carro trouxe linhas ainda mais ousadas. Equipado com motor flex de 16 válvulas e 1.497 cm3 (115/116 cv), recebeu câmbio automático CVT (manual de cinco marchas opcional no DX e LX), suspensão mais firme e freios a disco na frente e a tambor atrás.
Em setembro foi a vez do novo sedã City, com entre-eixos e comprimento alongado em 5 cm e porta-malas 30 litros maior (passando a 536 l), graças à adoção de estepe provisório, mais estreito. A mecânica permaneceu a mesma, a menos do câmbio automático CVT (a caixa manual de 5 marchas foi mantida apenas na versão de entrada DX).
Novo Honda Fit, exposto no Salão do Automóvel (foto: LEXICAR).
Novo Renault Sandero
Seguindo o estilo do sedã Logus, completamente renovado no ano anterior, em junho a Renault mostrou o novo Sandero, que teve a carroceria modernizada e alongada em 4 cm. Plataforma, mecânica e capacidade do porta-malas permanecem as mesmas; apenas o motor 1.0 foi revisto e teve a potência elevada de 77 para 80 cv (a álcool).
Renault Sandero 2015.
Ford Ka e Ka+
Assim como a Honda, também a Ford renovou as duas versões de seu modelo básico Ka, ambas projetadas no Brasil, em julho lançando o hatch, com quatro portas, e três meses depois, o sedã, batizado Ka+.
Pouco maior do que o modelo anterior (mais 4 cm no entre-eixos, 5 cm no comprimento e 10 cm na altura), o hatch chegou com o novo motor de três cilindros, 997 cm3 e 80/85 cv, produzido na recém-inaugurada unidade de motores de Camaçari. O carro recebeu câmbio manual de cinco marchas, tração dianteira, suspensão dianteira McPherson e traseira por eixo de torção atrás, freios a disco ventilados na frente e a tambor atrás e direção com assistência elétrica.
O sedã Ka+ veio com motor de quatro cilindros (1.498 cm3, 105/110 cv), no restante mantendo as mesmas características mecânicas do hatch. 38 cm mais longo do que ele, porém, conquistou um porta-malas com substanciais 445 l de capacidade (contra 257 l do Ka).
Desde a versão básica, os dois modelos vem equipados com ar condicionado, sistema multimídia Sync (opcional) e dispositivo de emergência (o primeiro do país) que aciona automaticamente o Samu em caso de acidente grave.
Novo Ford Ka hatch.
Volkswagen Saveiro cabine dupla e novo Troller T4
A picape Saveiro cabine-dupla foi o segundo lançamento VW de 2014. Com apenas duas portas (porém mais largas, as mesmas do Gol duas-portas), tem cinco lugares e caçamba para 580 l, com tampa traseira amortecido por mola a gás. O motor é 1.6.
Em junho a Troller apresentou um carro inteiramente novo. Ainda chamado T4, o jipe diferia em tudo do T4 antigo, a começar pela dimensões – 17 cm a mais no entre-eixos e 15 cm no comprimento total. O chassi original com longarinas foi substituído por um conjunto tubular de seção retangular, mais leve e flexível; a carroceria, montada em torno de uma estrutura tubular periférica, passou a ser fabricada com componentes de plástico moldado a quente, ao invés de fibra-de-vidro. A maior parte dos órgãos mecânicos foi cedida pela picape Ford Ranger (motor diesel turbo de cinco cilindros, 3.198 cm3 e 200 cv, câmbio mecânico de seis marchas, tração 4×4 com acionamento elétrico, diferencial traseiro autoblocante e suspensão por eixo rígido e molas helicoidais). Os freios são a disco nas quatro rodas com ABS (ventilados na frente) e a direção tem assistência hidráulica.
VW Saveiro cabine dupla (foto: LEXICAR).
Novo Troller T4 (foto: LEXICAR).
Linha pesada Volvo
Em 2014 a Volvo brasileira modernizou toda sua linha de caminhões pesados, equiparando-a aos modelos vendidos no resto do mundo (a linha semipesada VM já havia sido atualizada no ano anterior). As três famílias – FM, FMX e FH – ganharam alterações estéticas, aprimoramentos mecânicos, novos itens de eletrônica embarcada e maior número de versões. Todos passaram a ter direção com assistência elétrica.
A linha FM, para transporte rodoviário de médias e longas distâncias, ganhou versões 8×2 e 8×4 (chassi rígido ou cavalo-mecânico) e novo motor de 380 cv. A FMX, para serviços pesados e operações fora de estrada, recebeu transmissão automatizada I-Shift e mais uma opção de motor, com 550 cv, além das três existentes (420, 460 e 500 cv). O modelo é oferecido com transmissão 4×4, 6×6 ou 8×4.
A família FH – top da Volvo – teve a aerodinâmica incrementada, com a adoção de novos defletores de ar (laterais e no teto), spoilers e saias. A cabine foi ampliada (a altura interna agora pode chegar a 2,2 m) e recebeu ar condicionado digital de série. Cavalo-mecânico tipicamente estradeiro, o FH é apresentado nas configurações 4×2, 6×2 e 6×4, com as mesmas quatro opções de motorização da família FMX.
Volvo FMX 460 8×4.