A Chery foi a primeira e até hoje a única indústria chinesa de automóveis a se instalar no Brasil. Entre dezenas de fabricantes chineses prometendo a nacionalização de carros, caminhões e máquinas agrícolas, pouquíssimos cumpriram o que prometeram, e somente ela, entre os automóveis, chegou a inaugurar fábrica própria. A produção foi iniciada em abril de 2015. Pouco mais de dois anos e meio depois, em outubro de 2017 – período em que forneceu carros medíocres em quantidades pífias e com reduzidíssimo índice de nacionalização, com menos de 20 revendas ativas e em meio a (mais uma) longa greve por descumprimento de obrigações trabalhistas – a matriz chinesa colocou à venda o controle da filial brasileira.
Já no mês seguinte a CAOA, montadora de veículos Hyundai em Goiás, firmava Termo de Cooperação Estratégica com o grupo chinês, mediante o qual adquiria 50% do controle dos negócios da Chery no Brasil, assumia a administração da sua planta de Jacareí (SP) e se responsabilizava pela comercialização da marca em toda a América do Sul. Os veículos resultantes da união seriam identificados como CAOA Chery.
Rapidamente a dinâmica administração da CAOA trouxe seus frutos: no início de abril, depois de longo ostracismo (somente 2.730 carros da marca foram vendidos em 2017), a Chery volta a dar sinais de vida com o lançamento do primeiro modelo da nova fase – o Tiggo 2, significativamente um SUV, o must atual de qualquer grande fabricante no mundo.
CAOA Chery Tiggo 2
Desenvolvido a partir do hatch Celer (porém levemente maior: 2 cm mais longo, 8 mais largo e 9 mais alto), a rigor se trata de uma versão “aventureira” do modelo, com carroceria alterada na dianteira e na traseira, interior redesenhado e suspensão elevada, proporcionando 18,6 cm de vão livre. O carro trouxe visível melhoria na qualidade de montagem e acabamento, denunciando ações corretivas da nova administração. Aparentemente por falta de tempo hábil, materiais de acabamento interno mais frágeis e de pior aspecto não chegaram (ainda?) a ser alterados.
Arquitetura e características mecânicas são as mesmas do Celar: motor transversal dianteiro flex de quatro cilindros, 16 válvulas, 1.496 cm3 e 110/115 cv , tração dianteira, câmbio manual de cinco marchas, suspensão independente (dianteira McPherson e traseira por eixo de torção), freios a disco nas quatro rodas (ventilados na frente) e direção hidráulica. (Além da carroceria, as diferenças com relação ao Celer se limitam aos 2 cv adicionais na potência, obtidos graças à utilização de duplo comando de válvulas variável, e aos freios a disco, apenas nas rodas da frente no Celar.) O porta-malas tem 420 l de capacidade.
O carro foi apresentado em duas versões de acabamento: Look e Act. A primeira traz, de série, ar condicionado, rádio, vidros e retrovisores elétricos, computador de bordo, rodas de liga de 16″, rack no teto, luzes de direção nos retrovisores, iluminação no porta-malas, vidro traseiro com limpador, lavador e desembaçador, luz diurna com leds, monitoramento de pressão dos pneus e sensores de estacionamento traseiros.
À versão Act são adicionados volante revestido de couro, ar condicionado digital, volante multifuncional, central multimídia com tela de 8″, piloto automático, controle de estabilidade e tração, assistente de partida em rampa, câmera traseira e teto solar elétrico.
Apesar de bem equipado, o Tiggo 2 peca pela ausência de alguns itens: além da direção hidráulica – e não elétrica, como já é comum -, não conta com airbags laterais, nem com regulagem em profundidade do volante ou acendimento automático dos faróis. Outro ponto negativo é o reduzido índice de nacionalização: somente 11% de componentes têm origem local, todo o restante sendo importado da China.
Em paralelo com seu primeiro lançamento, a CAOA Chery inicia a expansão da rede de concessionárias (cinco novas revendas foram criadas neste curto período) e começa a investir na melhoria qualidade dos serviços de pós-venda.