LIGHT
|
A empresa canadense The Rio de Janeiro Tramway Light and Power Co., popularmente conhecida simplesmente como Light, a partir de 1905 foi a única concessionária responsável pela geração e fornecimento de energia elétrica para a antiga capital federal. Paulatinamente, em decorrência do esforço de eletrificação dos serviços de bondes da cidade, até então fragmentados sob diversas concessões, também se tornou monopolista dos transportes urbanos. Graças ao alcance do sistema, abrangendo toda a área urbanizada da cidade e adiantando-se a novas ocupações, os bondes elétricos foram o principal modo de transporte público do Rio de Janeiro durante toda a primeira metade do século XX, sendo responsáveis por mais de 85% dos passageiros transportados na década de 30; durante os anos de 50 este índice ainda alcançava 56%.
O relacionamento da empresa com os órgãos públicos e a população sempre foi conflituoso e, devido à sistemática tentativa de postergação de investimentos para expansão dos sistemas de geração de energia e modernização e expansão da rede de bondes, ambos os serviços foram sofrendo contínua degradação. Apesar da alegada baixa rentabilidade dos negócios, no entanto, a Light sempre buscou fortalecer seu domínio no já lucrativo mercado do transporte urbano, porém com o mínimo investimento possível. Assim, em meados da década de 20 ingressou no segmento rodoviário, logrando – com a conivência das autoridades – aumentar sua participação no setor sem ter que investir na implantação de trilhos e na expansão da rede elétrica. Sua estréia como operadora de ônibus se deu em 1926, ao obter concessão da prefeitura para operar uma linha entre o centro da cidade e o bairro de Botafogo; para tal criou a Viação Excelsior, que continuamente se expandiria nos anos seguintes, incorporando – da mesma maneira como ocorrera com os bondes – a maioria das empresas de ônibus concorrentes.
A Light já tentara, em 1918, uma alternativa aos bondes, importando dos EUA sete veículos elétricos a bateria com pneus maciços; sua reduzida autonomia frustrou a iniciativa e o serviço pouco tempo durou. Ao ganhar a concessão, oito anos depois, a empresa buscou criar um serviço de qualidade, diferenciando-o do amadorismo que até então vigorava na cidade: uso de viaturas pequenas e desconfortáveis, derivadas de caminhões, a maioria com carroceria aberta, sem regularidade de horários e operadas por motoristas autônomos. Grande empresa, a Light iniciou o novo serviço com o que existia de mais moderno, na Europa, em equipamento para transporte público sobre pneus: chassis pesados Guy britânicos, a diesel, equipados com carrocerias de madeira construídas em suas próprias oficinas no Rio de Janeiro (em Botafogo e São Cristóvão). Foram importados ao todo 170 chassis, com dois e três eixos, estes recebendo carrocerias de dois andares (apelidadas chope-duplo), com 28 lugares no primeiro piso e 34 no segundo.
É compreensível que a Light tenha optado pelo encarroçamento próprio dos ônibus, já que suas oficinas – assim como as da maioria dos operadores de bondes do país – estavam capacitadas para efetuar reformas e restaurações de quaisquer equipamentos, com freqüência substituindo as estruturas dos carros antigos por outras totalmente novas, feitas em casa. Os novos veículos da Viação Excelsior não primavam apenas pela qualidade técnica dos chassis – potentes, com piso mais baixo, adequados para o transporte de pessoas; com eles também foram introduzidos itens de operação que logo passariam a ser padrão no transporte público brasileiro: preço da passagem dividido em seções, serviço de cobrador, horários pré-fixados, caixa de coleta das passagens e campainha para sinalizar a parada. A Light operou ônibus até 1948, embora já não mais os encarroçasse (naquele ano o país já dispunha de grande número de fábricas, algumas de grande porte, exclusivamente dedicadas à construção de carrocerias); por muitos anos, contudo, continuaria a processar a reforma e construção de estruturas do bondes.
-
- Personalidades cariocas perfiladas na inauguração da operações da Viação Excelsior, em 7 de junho de 1926, com a linha Clube Naval – Mourisco (no final da praia de Botafogo), logo estendida até o Forte de Copacabana.
-
- Anúncio de inauguração de nova linha da Viação Excelsior, em 19 de novembro de 1927.
-
- Linha de fabricação de carrocerias da Light em sua enorme oficina de Triagem; a foto é de 1926.
-
- Nas oficinas da Light, carrocerias prontas para equipar chassis Guy (fonte: Jason Vogel).
-
- As carrocerias recebiam revestimento metálico e eram construídas separadas dos chassis, sobre os quais eram montadas depois de prontas.
-
- Em 1930, montagem de um bonde sobre seus truques nas oficinas de Triagem (foto: O Cruzeiro).
-
- A moderna garagem de Triagem (São Cristóvão) tinha capacidade para fabricar 150 bondes e 50 carrocerias de ônibus por ano.
-
- Construídos sobre chassis britânicos Guy, os ônibus urbanos da Light por muitos anos seriam os mais modernos do país; note a reduzida distância para o piso.
-
- Propaganda da inglesa Guy, de junho de 1927, divulgando seu grande fornecimento de chassis para a Light.
-
- Em fotografia de Augusto Malta, um ônibus Guy cruza a extinta praça 11, junto ao início do canal do Mangue, em novembro de 1927 (fonte: Antônio J. Caldas / Rio das Antigas).
-
- A imagem anterior ilustra esta publicidade contemporânea da Viação Excelsior (fonte: Antônio J. Caldas / Rio das Antigas).
-
- Os primeiros ônibus Guy com carrocerias de fabricação própria da Excelsior, apelidados "Jacaré" pelos cariocas; como os bondes, ainda utilizava cortinas de lona nas janelas.
-
- Ao longo do tempo a Light foi adaptando suas carrocerias às exigências da cidade, instalando "capelinhas" no teto, para indicar o número da linha, e "bandeiras" na parte superior das janelas, para aumentar a proteção contra o sol e a chuva.
-
- O Guy da Excelsior fotografado em 1931 em um dos parques da Capital Federal (fonte: O Cruzeiro).
-
- Note a altura reduzida do primeiro degrau: o transporte coletivo brasileiro teria que aguardar mais de meio século até que a acessibilidade passasse a ser uma item obrigatório nos ônibus urbanos; a fotografia é de 1933 (fonte: O Cruzeiro).
-
- Ônibus da Viação Excelsior numa noite chuvosa do Rio de Janeiro (RJ) em 1932 (foto: O Cruzeiro).
-
- Nesta foto do início dos anos 30, três Guy da Excelsior perfilam no ponto final da Praça Floriano Peixoto, à frente do Teatro Municipal do Rio de Janeiro (fonte: portal autoclassic).
-
- No verão de 1933, utilizando chassis Guy mais leves, a Excelsior criou uma linha especial para banhistas (fonte: O Cruzeiro).
-
- Um Guy da Excelsior atendendo ao bairro da Tijuca em 1933 (fonte: Madureira: Ontem & Hoje / Arquivo Nacional).
-
- Serviço especial fornecido pela Excelsior, no mês de outubro, durante a Festa da Penha; a imagem é de 1933 (foto: O Cruzeiro).
-
- Ônibus urbanos da Excelsior requisitados pelo Governo Federal, em julho de 1932, para o transporte de tropas destinadas ao combate do Levante Paulista (foto: O Cruzeiro).
-
- Rede de linhas urbanas da Viação Excelsior em março de 1929.
-
- A malha de transporte da operadora em setembro de 1933.
-
- Ônibus de dois andares da Excelsior, onde se viajava, segundo esta publicidade de março de 1930, "como um príncipe nababo", "entre a melhor sociedade de nossa 'elite' mundana, da nossa gente de 'ton'".
-
- Em abril de 1928 foram iniciados os serviços do ônibus de dois pisos, apelidado "Chope-duplo".
-
- O "chope-duplo" em imagem de 1931 (fonte: O Cruzeiro).
-
- Esta imagem permite perceber a escolha da mecânica apropriada para aplicações urbanas, lição que depois seria esquecida por décadas pelo país: chassi pesado, com potência elevada e piso baixo.
-
- Ônibus de dois andares da Excelsior detido em engarrafamento na avenida Rio Branco, Rio de Janeiro (RJ), no final da década de 20; a fotografia mostra um detalhe de cartão postal.
-
- Ônibus de dois pisos circulando pelo Largo da Lapa, no Rio de Janeiro, na década de 30 (fonte: O Globo).
-
- À esquerda, o antigo prédio do Ministério da Guerra, no centro do Rio de Janeiro (RJ); ele e todo o entorno que enquadra o ônibus de dois andares da Viação Excelsior desapareceram com a abertura da avenida Presidente Vargas, inaugurada em 1944 (fonte: portal rio-curioso).
-
- Guy da Viação Excelsior, operando no centro do Rio de Janeiro na década de 30 (fonte: site rioquepassou).
-
- De 1933 é esta imagem, tomada na Cinelândia (fonte: O Globo).
-
- Fotografia semelhante, em outro ângulo, tomada dela revista O Cruzeiro (foto: O Cruzeiro).
-
- Terceira imagem de um Guy da Excelsior na Cinelândia, esta de novembro de 1931 (fonte: O Cruzeiro).
-
- Registro da histórica passagem do dirigível alemão Hindenburg pelo Rio de Janeiro em 1936; em primeiro plano um ônibus Guy da Viação Excelsior (fonte: portal diariodotransporte).
-
- Guy da Viação Excelsior e obelisco da avenida Rio Branco, na antiga Capital Federal, em detalhe de cartão postal dos anos 30.
-
- Publicidade de divulgação do serviço de passes da Excelsior, publicado em dezembro de 1937