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L’AUTOMOBILE | galeria

A L’Automobile Distribuidora de Veículos Ltda. foi criada em 1975, em São Paulo (SP), pelos argentinos Claudio Campuzzano e Guillermo Pardo, com o objetivo de fabricar réplicas de automóveis históricos. Dois carros estavam previstos, ambos com mecânica Volkswagen Brasília (1600 com dupla carburação) e projeto originário dos EUA: a primeira réplica brasileira do esportivo Alfa Romeo P-3 1931 (vencedor, por três vezes seguidas, das 24 Horas de Le Mans) e a terceira do Bugatti T-35. Apenas o Alfa foi lançado, em junho do ano seguinte, com diversas alterações em relação ao modelo norte-americano, dentre elas a introdução de capota conversível, portas, para-choques e para-brisa basculante.

Embora fosse impossível reproduzir fielmente o original, dada a utilização da plataforma VW, sem alterações, e a localização traseira do motor, toda atenção foi dada aos detalhes e acabamentos do automóvel: volante de madeira de quatro raios; formato e disposição semelhante da instrumentação; pequenos para-brisas individuais (além do rebatível); bocal do tanque de gasolina tipo flip-top; cintas de couro para o fechamento do capô; estepe externo; falso radiador com tampa; e (também falsos) rebites moldados na fibra, imitando o método original do chapeamento da carroceria (moldada pela Hidroplás). Previa-se a produção máxima de 20 unidades mensais, a maior parte para exportação. Não seriam fornecidos kits.

No XI Salão do Automóvel, em 1978, a L’Automobile apresentou sua segunda criação, o cupê 2+2 Ventura, sobre plataforma Brasília equipada com o motor da Variant II. De linhas elegantes e acabamento bem cuidado (painel de instrumentos completo, revestimento interno em couro e cintos retráteis de três pontos), o carro tinha apenas 4,14 m de comprimento – embora aparentasse mais. Na frente, trazia faróis retangulares do Dodge Polara e, na traseira, as lanternas do Alfa Romeo SL, as duas extremidades sendo complementadas por superfícies pintadas na cor grafite. Graças ao motor plano da Variant II, havia razoável espaço para bagagem também no compartimento traseiro. Em contrapartida, esta confiável, porém discreta mecânica VW se recusava a conferir qualquer dote esportivo ao bonito automóvel. A produção inicial foi de oito unidades mensais, algumas delas exportadas para Europa e EUA.

Em abril de 1981, já dispondo de novas instalações em São Bernardo do Campo, a empresa adquiriu o controle da Tander Car, completando sua linha com um buggy e outros veículos menos sofisticados e de menor preço. Com a compra, a produção mensal da L’Automobile atingiu a média de 60 unidades. No final daquele ano, no XII Salão do Automóvel, tentou solucionar o problema de inapetência esportiva do GT Ventura, apresentando a versão RS, equipada com o moderno motor Passat 1.6, de quatro cilindros em linha refrigerado a água, ainda montado na traseira. Um pouco depois o carro recebeu sua primeira atualização estética, ganhando quatro faróis retangulares de menor tamanho (do Passat) e as lanternas traseiras frisadas do Ford Corcel II. O país vivia, então, em plena recessão, e a indústria automobilística passava por uma das mais graves retrações de vendas de sua história. Na periferia do sistema, os pequenos fabricantes sofriam ainda mais. No início de 1983, com a produção reduzida a um terço, os proprietários da L’Automobile decidiram desfazer a sociedade e colocaram à venda moldes e projetos de seus carros.

Sua sucessora, L’Auto Craft Montadora de Veículos Ltda., praticamente sem descontinuidade retomou a fabricação em novas instalações, em Barra do Piraí (RJ). Todos os modelos foram mantidos em linha e o Ventura com motor Passat foi relançado como modelo GTS. A nova motorização exigiu instalação de um radiador e incremento da área de ventilação, provocando intervenções que carregaram a carroceria com alguns detalhes estéticos mal resolvidos, tais como a pesada moldura negra envolvendo a grade, a grelha plástica triangular ocupando a coluna B e as entradas de ar adicionais junto às rodas traseiras. O porta-malas posterior teve que ser eliminado, pois o motor vertical passou a ocupar todo o volume disponível. Para complicar mais o problema de espaço, o tanque de combustível foi para frente, diminuindo ainda mais o já pequeno volume do porta-malas dianteiro. O para-brisa traseiro foi reduzido em comprimento e tornado mais vertical, de modo a permitir o aumento da tampa do motor e a abertura de mais uma entrada de ar para sua refrigeração. Para completar o desacerto, o novo motor pouco melhorou o desempenho do carro.

No ano seguinte, a L’Auto Craft preparou para o XIII Salão um conversível derivado do Ventura, substituindo o motor Passat pelo novo AP 1.8. Em 1986, a empresa adquiriu da Fibrario os direitos de produção de dois interessantes projetos, a réplica Dimo e o buggy Terral, que deixavam de ser fabricados pela empresa carioca. Com isto, passou a contar com extensa linha de modelos: réplicas Alfa, Dimo, Ford 1929 e Bugatti (as últimas herdadas da Tander Car), dois buggies e duas versões do Ventura. Pouco satisfeita, construiu para o XV Salão o estranho protótipo Ventura II, “inspirado no Pontiac norte-americano“, sem para-choques, com tração dianteira e motor de dois litros do Santana.

O carro não entrou em produção, mas serviu de base para o desenvolvimento do Sabre, lançado em 1990, no XVI Salão. Com estilo conservador, mas muito bem proporcionado, era um três volumes esportivo, com duas portas e traseira curta, declaradamente calcado no Santa Matilde SM, que deixara de ser fabricado. Tal como aquele, era equipado com órgãos mecânicos do Chevrolet Opala 4.1 montados sobre chassi tubular integrado à carroceria de fibra de vidro. Tinha quatro faróis, largo conjunto ótico abrangendo toda a extensão da traseira, direção hidráulica, ar condicionado e, como opção, caixa automática e estofamento de couro. Logo a seguir, para melhor competir com os esportivos estrangeiros, cujas importações acabavam de ser liberadas pelo governo Collor, a empresa procedeu a diversas alterações no modelo: nova frente (algo kitch) com dois faróis e um grande S no meio da grade, borrachas em torno das laterais e dos para-choques na cor da carroceria e lanternas traseiras divididas por uma faixa horizontal, também na cor do carro. Relançado em 1991, o Sabre foi fabricado até 1997, num total de 108 exemplares.

Naquele ano, após uma década e meia de atividade fabricando carros criativos e de qualidade, a L’Auto Craft cerrou as portas.





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