LAMBRETTA |
A motoneta Lambretta é o ícone de uma época. Em conjunto com a Vespa, foi ao mesmo tempo desejo de consumo e instrumento de contestação de toda uma geração classe-média que passou pela adolescência na segunda metade da década de 50. Para o bem e para o mal, os termos motoneta e juventude transviada ficaram para sempre associados no Brasil e, com toda a carga de preconceitos aí embutida, o neologismo lambretista se tornou sinônimo de transviado. Mas a carreira da Lambretta começou de forma mais ingênua, como meio de transporte barato e instrumento de trabalho.
O veículo começou a ser fabricado no país no final de 1955, em São Paulo (SP), sob licença da italiana Innocenti. Anterior ao GEIA, este pioneiro da motorização do país era apresentado em dois modelos: 150 D e LD, respectivamente standard e luxo. Dispondo da mesma mecânica (motor de dois tempos, um cilindro refrigerado a ar, 148 cm3, 6 cv), diferenciavam-se pelo acabamento e pelas carenagens laterais, inexistentes na versão mais simples. O fabricante também fornecia side-cars e versões para carga; como não dispunha ainda de triciclos, oferecia três modelos para entregas urbanas – um com carroceria aberta e dois pequenos furgões-reboque, um com tampa e outro com portas traseiras.
A produção e o índice de nacionalização cresceram rapidamente, passando de 300 unidades mensais, com 60% de agregação nacional (em valor), no início de 1956, para 600/mês e 90% de nacionalização apenas meio ano depois. Em 1960, sua melhor fase, mais de 50 mil foram fabricadas. Ainda em 1960, para enfrentar o bem-sucedido triciclo Vespacar, da rival Vespa, lançou seu próprio modelo Lt 175, capaz de ser adaptado para diversas funções: furgão, picape, balcão ambulante, coletor de lixo “e até carro de bombeiro e escada“.
Em 1964 a empresa já tinha uma linha diversificada, também produzindo motores estacionários e marítimos, máquinas operatrizes, furadeiras e lixadeiras. Novo produto foi introduzido no IV Salão do Automóvel – o micro-trator Pasco MT-9, com capacidade de tração de 600 kg, o primeiro com quatro rodas de fabricação nacional. De projeto próprio, utilizava o mesmo motor da motoneta, que agora tinha 175 cm3 e 9 cv, acoplado a caixa de câmbio com duas marchas à frente e ré. O pequeno trator, entretanto, teve vida curta: já em 1967 deixava a linha de fabricação, após terem sido completadas somente 643 unidades.
A partir daí a situação da empresa (que dois anos antes alterara a razão social de Lambretta do Brasil S.A. Indústrias Mecânicas para Companhia Industrial Pasco-Lambretta) começou a se deteriorar: as motonetas saíam de moda e as motocicletas japonesas começavam a ocupar o seu lugar como desejo de consumo. Em 1972 a produção se limitava a 370 unidades mensais – ociosidade de quase 77% frente à capacidade fabril de 1.100/mês. No ano seguinte a Pasco tentou reposicionar a Lambretta no mercado, simplificando o modelo sob o nome Xispa e desdobrando-o em duas versões, cada uma com duas opções de motor (148 e 175 cm3): uma scooter reestilizada e uma pequena motocicleta, sem carenagens e com novo chassi. Cerca de 2.300 foram vendidas naquele ano.
Em 1974 a Pasco tentou retornar aos triciclos com o lançamento, em outubro, de um veículo de carga composto por uma caçamba com capacidade para 300 kg acoplada à motoneta de 175 cm3, prometendo para o início do ano seguinte um modelo mais cuidado, com cabine para duas pessoas e opção de carroceria aberta ou furgão. Antes disso, porém, a empresa foi vendida para a Motosport, firma do ramo de importação e venda de motocicletas, que alterou a razão social para Brumana-Pugliesi S.A. Indústria e Comércio de Motores e Veículos. Foi ela que, em novembro do ano seguinte, acabou por lançar o triciclo, que levou o nome BP-S-175. A empresa criaria novos e bem desenhados modelos, inclusive tomando por base a moto de 125 cm3 – o Xispa Trailler, um reboque-furgão para 200 kg. O triciclo-picape foi melhorado e acompanhado de um furgão para 300 kg, ambos chamados Motokarga.
No final da década mais uma vez foram mudados o controle acionário e a razão social – a última dela para Lambretta Veículos Brasileiros Ltda.. Mas a guerra estava próxima de ser perdida. Entre 1975 e 76, Yamaha e Honda começam a produzir em massa motos de baixa cilindrada no Brasil e as “herdeiras” da Lambretta não tiveram como acompanhá-las. Nenhuma tentativa logrou reverter o processo de perda de mercado e o último fabricante brasileiro da marca foi levado à falência em 1982.