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Por muitos anos um dos maiores fabricantes nordestinos de buggies, a Fyber Indústria e Comércio Ltda. foi fundada em Fortaleza (CE), em 1974, pelos irmãos Agliberto e Rogério Farias, com o objetivo de produzir artefatos de fibra de vidro. Em 1981 a empresa entrou no ramo de buggies lançando o Duna’s, um criativo veículo anfíbio até hoje não igualado na produção nacional. Utilizando conjunto motor Volkswagen refrigerado a ar (65 cv) montado na traseira, o carro dispunha de chassi tubular revestido de plástico reforçado com fibra de vidro, sendo um dos primeiros a não aproveitar a plataforma original Volkswagen.

A vedação da carroceria, uma peça monobloco de fibra constituída de cinco compartimentos estanques, era garantida por duas bombas de porão e por peças sanfonadas de lona emborrachada acopladas a cada um dos quatro semi-eixos. A impulsão na água era obtida por uma hélice acoplada à saída de força traseira, acionada a partir do painel por embreagem eletromagnética; os pneus dianteiros assumiam a função de leme. Tinha suspensão regulável, freios a disco nas quatro rodas e instrumentação completa no painel. Com tal configuração, o Duna’s podia atravessar cursos d’água tranqüilos e superfícies alagadas de pequena profundidade à velocidade de até 10 nós. O buggy era também produzido numa versão “terrestre”: nesta, eram eliminados a hélice, o guincho dianteiro e os faróis adicionais sobre o santantônio, era alterado o sistema de exaustão e abertas entradas de ar para a refrigeração do motor.

Cerca de 180 Duna’s (sete dos quais anfíbios) foram fabricados até 1984, quando foi introduzido novo modelo – o Fyber 2000. De grande sucesso, com chassi curto, trazia linhas angulosas, faróis retangulares, carroceria monobloco integrada ao chassi tubular e – novidade nacional na categoria – suspensão traseira com molas helicoidais, inspirada no Gurgel X-12. O Fyber 2000 fez escola e tornou-se o protótipo do “estilo nordestino” de projetar buggies.

Em 1992, quase sem alterações externas, surgiu a versão topo de linha Star, modelo vendido completo, com motor “zero km” de carburação dupla ou simples. De série, trazia rodas exclusivas, painel digital, computador de bordo, bancos com encosto de cabeça, esguicho d’água, para-sol e cores metálicas especiais. Mais de 12 mil unidades dos dois modelos foram comercializadas até ser encerrada a produção, em 1995. Então, por dificuldades financeiras, muitos clientes do Consórcio Fyber deixaram de receber seus carros.

Antes disso, porém, outros veículos foram projetados e fabricados pela Fyber. Em 1988 foi lançado o pequeno utilitário 3000, com a mesma concepção do buggy (chassi tubular, corpo de fibra, motor traseiro VW refrigerado a ar), porém com carroceria semi-fechada, para-choques envolventes e duas portas, ao estilo jipe; 90 exemplares foram fabricados. Em 1992 (já sob a razão social Fyber Indústria de Veículos S.A.) e com o mercado de buggies encolhendo (da capacidade de produção de 300 unidades mensais, só conseguia vender 120), a empresa decidiu diversificar sua linha de produtos, lançando o utilitário Brisa, nas versões picape e ambulância, com configuração mecânica completamente diferente de tudo que já havia projetado até então: tração dianteira, suspensões e conjunto motor do Fiat Fiorino, com 67 cv; cerca de 600 deles foram fabricados.

Em paralelo com esses projetos, a Fyber adquiriu um terreno em Horizonte, município próximo a Fortaleza, onde pretendia construir uma unidade para a produção de 150 caminhões leves por mês, com capacidade de carga de uma a três toneladas e mecânica a definir; previa-se, ainda, a fabricação de picapes e jipes. No ano seguinte, porém, os rumos da Fyber começariam a mudar radicalmente: Rogério Farias deixaria a empresa e, na partilha da sociedade, ficou com o terreno de Horizonte, onde dois anos depois fundou a Troller, iniciando a produção do seu jipe de grande sucesso.

A Fyber, por sua vez, não resistiu por muito tempo e encerrou as atividades em 1995. Ao longo dos dois anos seguintes a massa falida foi leiloada e os moldes e ferramental de produção arrematados por diversos interessados, período em que a homologação da marca Fyber venceu.

A produção do buggy não foi retomada em 1999 pela firma Fiber Star Indústria e Comércio de Veículos Especiais, que voltou a homologar a marca Fyber como Fyber 2000. Instalada em Eusébio (CE), reiniciou a fabricação do modelo em pequenas quantidades, utilizando a nova marca. A mecânica permaneceu a mesma. Fornecido em duas versões de carroceria, diferenciadas pelos rebaixos laterais para ventilação do motor (que podiam receber estrias decorativas ou não), o carro dispunha de grande quantidades de opções de capota (rígida, de lona ou cobertura de fibra), de acabamento (santantônio e moldura do para-brisa em preto ou na cor da carroceria) e de acessórios.

Pouco depois, buggies com o logo Fyber passaram a ser fabricados em menor escala (em média dez carros/mês) pela também cearense Peixoto Veículos, revendedora de carros nacionais e importados de Fortaleza. Indevidamente denominados Fyber 2000, foram relançados com mecânica VW AP-1800 refrigerada a água, com 102 cv, um dos mais potentes na categoria. Logo mudariam o nome para Fyber 2000W, quando receberam faróis circulares, caixa de quatro marchas e suspensão dianteira do Fusca, suspensão traseira por molas helicoidais e freios a disco na frente.

Anos depois, em agosto de 2019, a firma alemã Axxola GmbH adquiriu a Peixoto Veículos, anunciando para breve a produção do buggy em instalações industriais próprias em Paracuru (CE). Postergada por força da pandemia do novo coronavírus, a fábrica só foi inaugurada e a produção iniciada em 2021, sob a razão social Fyber Fabricação de Veículos Automotores. Dois modelos foram colocados em linha – Fyber Boxer e AP -, caracterizados pela mecânica VW utilizada: no primeiro caso o tradicional quatro cilindros opostos refrigerado a ar de 1.6 l e 53 cv, e no segundo, o motor AP de quatro cilindros em linha refrigerado a água, com 1,8 l e 112 cv. Nos dois casos possuíam suspensão dianteira por feixes de torção, suspensão traseira por molas helicoidais e freios a disco na frente e a tambor atrás. Ambos ganharam novas lanternas traseiras e, o modelo AP, grade dianteira para o radiador. Em 2022 o modelo 2000W foi  retirado de linha.

A querela em torno do nome Fyber, contudo, teria novos desdobramentos. Em novembro de 2019 a Fyber Indústria e Comércio de Veículos (nova razão social da Fiber Star) anunciou planos de construção em São Gonçalo do Amarante (CE), junto ao Porto de Pecém, da “maior fábrica de buggy da atualidade“, onde seriam fabricados quatro novos modelos, “além do tradicional Fyber 2000 e Star“. Imagens conceituais do que seria o novo Star foram divulgadas na ocasião – um bonito projeto concebido pelo designer Du Oliveira, mostrando faróis losangulares oblíquos e para-brisa curvo.

Em 2022, ainda nas antigas instalações de Eusébio, a Fyber Indústria e Comércio retomou a produção dos tradicionais modelos 2000 e Star, sempre com motorização Volkswagen –  o primeiro com 1600 boxer ou AP 1.8, o último com EA 111 1.6 (como resultado de pesquisa de mercado, pouco depois o modelo Star seria descontinuado). Em 2024, por fim, com o encerramento da fábrica de Paracatu, pertencente à alemã Axxola, pode ser dada por concluída a batalha pelo direito de propriedade da marca Fyber.

 

[LEXICAR agradece a colaboração de Nill Araújo e Jeff Stone na atualização deste texto.]





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