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FARUS | galeria

Após o advento da Fiat do Brasil, alguns poucos fabricantes de carros fora-de-série, fugindo do lugar-comum das carrocerias de fibra sobre plataformas Volkswagen, passaram a utilizar em seus veículos órgãos mecânicos oriundos da fábrica mineira. A Farus Indústria de Veículos Esportivos Ltda., de Belo Horizonte (MG), foi uma delas.

O projeto do seu carro teve início em 1977, e foi desenvolvido por um grupo liderado pelos italianos Alfio e Giuseppe Russo, pai e filho, proprietários da Italmecânica, fábrica de equipamentos para a indústria alimentícia em Minas Gerais. A Farus (das letras iniciais de Família Russo) foi constituída em 1979 e, em junho do ano seguinte, apresentou à imprensa sua primeira criação – o cupê de dois lugares ML 929, com grupo mecânico do Fiat Rallye (motor 1.3 de 72 cv e caixa de quatro marchas), montado transversalmente, entre eixos, e tração traseira. O chassi, especialmente projetado, era de chapas de aço dobradas e soldadas, em duplo Y, formando grandes caixões de seção quadrada. Tinha suspensão independente nas quatro rodas (McPherson, originária da dianteira do Fiat) e freios a disco, hidráulicos e de duplo circuito, também nas quatro rodas. A carroceria (de fibra) era unida ao chassi por calços de borracha; tinha faróis retangulares escamoteáveis, grandes lanternas traseiras (do Ford Corcel II) e dois porta-malas, a tampa do traseiro abrindo para o lado esquerdo, para também permitir acesso ao motor; o radiador de água era montado na frente. Internamente, apresentava painel completo, console central, bancos e volante esportivos, vidros elétricos e, na versão luxo, ar condicionado, estofamento de couro e teto solar. A produção seriada do novo modelo teve início em fevereiro de 1981, à razão de 15 unidades mensais; cem carros foram fabricados no primeiro ano.

A Farus montou um grande stand no XII Salão do Automóvel, em novembro de 1981, onde mostrou uma inesperada surpresa, o modelo TS 1.6, com os mesmos elementos mecânicos do ML 929, porém com motor (96 cv) e caixa Volkswagen Passat, ainda entre-eixos, porém com montagem longitudinal. Externamente os dois modelos se diferenciavam em detalhes: nas entradas de ar adicionais para o radiador (quatro pequenas grades sob o para-choque dianteiro mais largo), nas aberuras para a ventilação do motor, sobre a tampa traseira (circulares e horizontais no ML, oblongas e verticais, no TS), nas lanternas traseiras (do VW Voyage no novo modelo) e nos faróis auxiliares (montados mais abaixo, ao lado das novas grades de ventilação). No interior, ar condicionado e porta-luvas, inexistentes no modelo anterior.

Em 1982, a griffe Gucci lançou uma série especial do Farus TS, com para-choques da cor da carroceria, ar quente, som stereo e grande quantidade de logotipos do costureiro distribuídos pelo exterior e interior do carro. Ainda em 1982 a Farus começou a desenvolver um utilitário com motor diesel Fiat, nas versões picape, furgão e van para 15 passageiros, à qual daria o nome Fargo, mas não concluiu o projeto. No ano seguinte a razão social da empresa foi alterada para Embrabi Comércio Indústria Ltda. e suas instalações industriais transferidas para Contagem (MG).

No final de 1984, no XIII Salão do Automóvel, foram mais uma vez mudados fornecedor e cilindrada dos motores. A novidade chrgou com o Beta, lançado no Salão nas versões cupê e conversível, com o conjunto motriz 1.8 do Chevrolet Monza (96 cv, a álcool, ou 83 cv a gasolina – sempre entre-eixos) e caixa automática, ou manual de quatro ou cinco marchas. (Em 1986 o motor já seria outro – o Monza 2.0.) Como de regra, foram poucas as alterações estéticas: novas rodas, para-choques maiores com novo posicionamento das lanternas e apenas duas entradas de ar para o radiador, novas luzes de placa; as colunas B e a grade sobre o capô foram pintadas de preto, enquanto que o interior foi redesenhado. Chassi, suspensões e freios permaneceram inalterados.

Em 1986, a Farus quase chegou a acordo com uma empresa norte-americana interessada em importar grande quantidade de veículos (de 800 a 1.000 por mês), equipados com motor Chrysler 2.2 turbo, mediante contrato de longo prazo. Para tal as duas empresas se associariam, instalando nova fábrica para a produção seriada, possivelmente no Paraná. A Farus chegou a participar do Salão Internacional de Nova Iorque de 1987, onde seus carros foram bem cotados, mas o acordo acabou por não ser formalizado (desde 1982 o fabricante buscava penetrar no mercado externo, chegando a negociar a montagem dos seus carros na África do Sul).

Nova mudança nos motores e detalhes estéticos ocorreu em 1988, por ocasião do XV Salão, quando o Beta recebeu a mecânica 2.0 do VW Santana, caixa de cinco marchas, embreagem hidráulica e servo-freio. Mais uma vez foram alterados para-choques (agora da cor do carro), entradas de ar e lanternas (as traseiras passaram a ser as do Santana). Com a redução das dimensões do túnel central o espaço interno foi revisto.

Em 1989, com o lançamento do Quadro, a Farus abandonaria a configuração “cupê de dois lugares com motor central”, que vinha adotando desde sua criação. Do carro antigo, o Quadro trazia apenas o conjunto motor/caixa VW 2.0 e os contornos gerais da carroceria (especialmente sua parte mais mal resolvida – o trecho lateral entre as colunas B e C). De resto, tudo era novo: chassi tubular periférico, motor e tração dianteiros, freios a disco apenas na frente, suspensão do Santana (dianteira McPherson e traseira semi-independente, com molas helicoidais e braços longitudinais). A carroceria permanecia de fibra de vidro, com duas portas e faróis retráteis, mas agora tinha 2+2 lugares e lanternas traseiras do Gol.

Em 1990 a Farus foi vendida para um grupo paulista; a indústria permaneceu em Contagem, porém com outro nome – Tecvan, Tecnologia de Vanguarda Ltda. A nova empresa, que esteve presente no XVI Salão, não logrou sobreviver à abertura das importações promovida no início da década, pelo governo Collor, cerrando as portas em 1991. Com cerca de 1.200 unidades produzidas em menos de dez anos (mais de 80 exportadas), a Farus foi uma história de sucesso no segmento dos fora-de-série nacionais.





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