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ECOMÓVEL | galeria

Automóvel elétrico criado no final da década de 90 pelo engenheiro Aureci Gasparini, de Curitiba (PR). Com apenas 2,70 m de comprimento, tinha carroceria de duas portas moldada em plástico reforçado com fibra de vidro e três lugares, lado a lado em um mesmo banco. Tinha chassi periférico em viga C, suspensão por feixe de molas transversal na dianteira e por molas helicoidais na traseira, motor elétrico WEG CC de 8/15 kW alimentado por um grupo de oito ou dez baterias comuns e câmbio de quatro ou cinco marchas. Também havia uma versão picape, com os mesmos três lugares e uma pequena caçamba com capacidade para 120 kg de carga.

As baterias seriam alimentadas por placas captoras de energia solar instaladas no teto, na dianteira e traseira do carro, por dois pequenos geradores acoplados ao motor e por uma unidade eletrônica por ele criada, denominada MERC, permitindo velocidade máxima de 105 km/h e autonomia de 400 km no inverno (“mesmo em dias nublados“), e de até 700 km “nos dias de alto verão“; “com um tipo de bateria mais aperfeiçoada ou associada a novos elementos químicos, poderia atingir ate 1.500 km“.

A proposta, aparentemente simples e lógica, envolvia, porém, uma ideia mirabolante: a unidade eletrônica MERC, sigla de Misturador de Energias Recicladas Combinadas. Se tratava, segundo o inventor, da concretização de uma descoberta sua, ocorrida nos idos de 1967, quando teria identificado a existência de “uma corrente eletrônica transportadora de partículas“. Daí teria surgido a ideia de criar um carregador automático de energia, que seria alimentado pela captação e “mistura” das “várias energias perdidas no meio ambiente” – “elétrons livres perdidos na atmosfera, como por exemplo: a luz das lâmpadas, correntes espúrias e errantes, ondas hertzianas de rádio e televisão, de satélites, banda larga de celular e bandas estáticas, ondas de eletricidade dispersas pelas linhas de transmissão das concessionárias de energia elétrica, ondas cósmicas e outros elementos contidos ou misturados no ar que respiramos“.

Antenas acopladas a um “captador eletrônico magnético” recolheriam os “elétrons dispersos na atmosfera“, encaminhando-os para uma “caixa misturadora de energia“, onde se juntariam às correntes vindas dos painéis solares e dos geradores acoplados ao motor, daí sendo enviadas “de forma ordenada para uma caixa distribuidora, que forneceria energia de acordo com a requisição de carga do sistema de retroalimentação das baterias e do consumo de energia do motor elétrico“.

O inventor considerava que, “mesmo estacionado e com o motor desligado, em qualquer local iluminado, o sistema de recarga das baterias estaria sempre funcionando, pois a referida unidade eletrônica lança uma onda pelas antenas laterais que alcançam uma determinada altura do espaço terrestre e captam energias perdidas no meio ambiente – à noite esta captação se fazendo com maior intensidade“.

O resultado seria “uma nova corrente elétrica (…) para manter o motor funcionando e recarregar as baterias”. Alegando ser capaz de “rodar 10 mil quilômetros sem reabastecimento” (ou seja, “não necessitando ser plugado na rede elétrica “), seu carro iria “mudar todos os conceitos conhecidos até hoje a respeito de carros elétricos, uma revolução na vida urbana“.

Os primeiros protótipos do aparelho MERC foram preparados em 1985. O sistema teria sido testado em Curitiba, entre 1992 e 1993, em um automóvel Fiat equipado com motor elétrico, mantidos o câmbio e os demais componentes do carro original. O veículo teria rodado “15.243 km por ruas e estradas sem que apresentasse uma falha qualquer, (…) não sendo recarregadas as baterias fora do veículo”. Julgados satisfatórios os testes, foi dado início à construção de três protótipos do automóvel, já então denominado Ecomóvel B-5. O novo modelo apresentava linhas limpas, equilibradas e agradáveis, embora seu design estivesse longe do que imaginava seu criador: “totalmente revolucionário, contendo inovações inéditas, não havendo nada similar no mercado nacional e mundial“, trazendo até mesmo “conceitos de aerodinâmica espacial” em sua concepção.

Os protótipos teriam sido concluídos em 1998, embora não se conheçam imagens que demonstrem terem chegado à fase operacional. Ainda assim, já naquele ano seu criador anunciava planos ambiciosos para o automóvel: “Nós vamos produzir 70 carros” para testes; depois, ainda em 1998, “começaremos a produzi-lo em escala industrial, sendo que a primeira fábrica terá capacidade de produzir dois por dia em Curitiba“. Depois seriam inauguradas outras três: uma no Paraguai, outra também em Curitiba e a terceira na Colômbia. “Temos um produto para ganhar o mercado automobilístico do Mercosul”.

Versões tipo luxo para passeio, militar, ambulância ou taxi elétrico podem ser produzidos imediatamente. A produção inicial de cada fábrica será de 300 unidades/mês e posteriormente 1.170 unidades/mês. Outros dois modelos derivados do primeiro também podem ser produzidos, sendo uma pick up para 120 kg de carga seca e o furgão para 270 kg mais dois passageiros“. Previa-se produção própria da caixa de câmbio e dos principais elementos eletrônicos. Os carros teriam garantia total de dois anos.

O construtor concluía, sempre desligado da realidade: “caso o motorista, em determinadas situações, como uma viagem prolongada, venha consumir a autonomia total das baterias, o mesmo terá que trocar este conjunto de baterias descarregadas em um posto autorizado, por outro conjunto pleno ao preço de R$ 20,00, troca esta que será efetuada em 3 minutos pelo aparelho automático SIB-1000 (Sistema Intercambiador de Baterias), localizado nos postos de troca de cada cidade onde o veiculo for comercializado“.

Não ocorre que o Ecomóvel tenha ultrapassado o estágio de protótipo estático. O engenheiro Aureci faleceu em 2013, num quarto de hotel diante da Rodoviária de Curitiba.

 

[LEXICAR agradece a José Geraldo Fonseca, cuja contribuição motivou a criação desta página.]





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