CROSS LANDER |
A Cross Lander do Brasil foi criada em 2002, como resultado da associação entre um grupo brasileiro (também acionista da KIA Motors do Brasil), com 70% do capital, e empresários norte-americanos do setor de distribuição de veículos, com os restantes 30%. O principal objetivo da empresa era a montagem de jipes ARO, de origem romena, em instalações a serem inauguradas na Zona Franca de Manaus (AM) e a subseqüente exportação para os EUA de 50% do total produzido, destinando-se o restante ao mercado interno e à venda a países da América Latina. A linha de fabricação foi inaugurada no final de setembro, em galpões anos antes utilizados pela KIA (quando a empresa coreana foi objeto de investigação pelas autoridades fiscais nacionais, envolvendo a pseudo-montagem de vans Besta e sua falsa nacionalização). Os planos iniciais eram pretensiosos: produção de 800 unidades ainda em 2002, três mil no ano seguinte e cinco mil em 2004, sempre destinando a metade ao mercado norte-americano.
O primeiro modelo lançado foi o CL-244, utilitário 4×4 de cinco portas derivado do ARO 24, porém sem o face-lift que o carro acabara de receber na Romênia. Segundo o fabricante, o Cross Lander alcançava 70% de nacionalização; eram importados o chassi completo (suspensão dianteira independente com molas helicoidais, eixo rígido traseiro com molas semi-elípticas, caixa de redução, freios a disco ventilados na frente) e a carroceria em chapa de aço, enquanto que o motor diesel (MWM turbo intercooler 2.8 de 132 cv), caixa de câmbio de cinco marchas, direção hidráulica, sistema elétrico, rodas e pneus eram de produção nacional. Com acionamento mecânico da tração e da reduzida e engate manual da roda livre, eram veículos simples e robustos, valentes em trajetos fora-de-estrada, porém mal acabados e sem itens de conforto (a menos do ar condicionado) – um “4×4 cru e autêntico“, como a eles se referiu o jornalista Jason Vogel no jornal O Globo. Foi também preparada uma versão militar. No XXII Salão do Automóvel, no final de 2002, a Cross Lander apresentou seu segundo modelo, a picape CL-330, seguindo as mesmas características mecânicas do jipe, todavia com capacidade para 1,3 tonelada de carga na sua caçamba metálica de 2,9 m de comprimento; ao contrário deste, porém, tinha um frágil para-choque dianteiro moldado em fibra de vidro.
Apesar do preço atraente (era o mais barato 4×4 brasileiro), a reduzida rede de revendas (apenas 16 multimarcas em todo o país) e a não confirmação das exportações para os EUA, para onde foram enviadas algumas unidades para a homologação que não ocorreu, inviabilizaram os planos ambiciosos da empresa. Assim, em lugar dos 800 veículos previstos, foram fabricados apenas 72 no primeiro ano. Depois de cerca de 200 unidades produzidas, a linha de montagem foi paralisada, o controle da empresa vendido e sua denominação social alterada para Cross Lander Indústria e Comércio Ltda.. No XXIII Salão, em 2004, a nova sociedade apresentou a “versão definitiva” da picape CL-330, que até aquele momento não havia sido colocada em produção. Mecanicamente, tratava-se do mesmo modelo mostrado dois anos antes, com os mesmos componentes importados e idêntica capacidade de carga, porém com cabine estendida e caçamba um pouco mais curta (2,62 m); também foi dedicado um pouco mais de cuidado aos materiais e acabamentos internos.
A vida da marca, entretanto, continuou conturbada. Depois de mais uma reestruturação societária, da criação, em 2005, da Bramont Montadora Industrial e Comercial S.A. (controlada pelo grupo gaúcho Bringer) e da transferência da linha de montagem para novas instalações, ainda em Manaus, os veículos Cross Lander encontraram dificuldades em atender à legislação ambiental brasileira, que começava a ser aplicada, e tiveram novamente a produção suspensa. Naquele mesmo ano a Bramont e a indiana Mahindra abriram negociações visando a fabricação local dos seus utilitários; a conseqüência natural foi o progressivo abandono dos produtos Cross Lander. Chegou-se mesmo a anunciar “nova linha 2006“, denominada Cross Ranger, mas logo a Bramont renunciou aos utilitários romenos. Estes voltaram a ser montados pela rediviva Cross Lander do Brasil, nas antigas ex-instalações da KIA (já agora com motores MWM que atendiam ao Proconve), mas logo a seguir a produção foi definitivamente encerrada.