CMA
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A Viação Cometa por mais de quatro décadas foi a principal operadora de ônibus entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Também foi, por longos anos, o maior cliente nacional da Scania e da Ciferal, a partir de 1961 padronizando sua frota rodoviária sucessivamente com os modelos Flecha de Prata, Jumbo e Dinossauro, todos eles fabricados em duralumínio sobre chassis Scania; entre os anos 60 e 80 se manteve a maior frotista de ônibus Scania do mundo. No início de 1982, coincidindo com o estado pré-falimentar que a Ciferal atravessava no período, a Cometa decidiu construir suas próprias carrocerias, com este fim criando a Companhia Manufatureira Auxiliar – CMA e para ela contratando pessoal especializado oriundo da encarroçadora carioca.
Logo após ter sido homologada como fabricante pelo CDI, em março de 1983, deu início à produção em uma de suas garagens de São Paulo (SP), área adquirida da Massari em 1980. Agora batizado de Flecha Azul, o primeiro ônibus CMA tinha carroceria idêntica ao Ciferal Dinossauro – modelo inspirado nos antigos GM Coach, operados pela Cometa na década de 50 e desenvolvido pela Ciferal a pedido da transportadora; segundo a Cometa, o Flecha Azul seria o “Dinossauro da terceira geração”. Sempre com mecânica Scania (inicialmente sobre chassis BR-116 e a seguir também sobre K-112, K-113 e K-124), o ônibus ganhou alguns centímetros a mais na largura e na altura internas, recebendo novas poltronas reclináveis com forração de couro, mais largas e com maior espaçamento. O banheiro ganhou novo layout e maior superfície espelhada, contribuindo para a sensação de mais espaço. Externamente diferia do modelo anterior pelo número de janelas (cinco, em lugar de seis), de maior tamanho. O projeto estrutural de duralumínio foi refeito, reduzindo em 700 kg o peso total da carroceria. A capacidade instalada da CMA, de 1,5 carrocerias por dia, permitiria renovar a frota da Cometa ao ritmo de cerca de 240 ônibus/ano, como planejava a empresa; a produção, entretanto, foi bastante inferior – pouco mais de 100 por ano.
Em 1984 a CMA construiu seus primeiros monoblocos urbanos (chamados Padron B), especialmente desenvolvidos para sua subsidiária operadora de transportes urbanos de Campinas. Imponentes, com linhas quadradas e ampla área envidraçada, eram 18 unidades também montadas sobre chassis Scania com motor traseiro e suspensão a ar (segundo consta, oriundos de rodoviários usados). Tinham estrutura de alumínio, 13,2 m de comprimento, portas largas e grande superfície livre para o itinerário; a capacidade era de 181 passageiros (41 sentados e 140 de pé).
No final de 1991 a empresa alcançou a 1.000ª unidade fabricada; algumas delas foram exportadas. O Flecha Azul foi sendo paulatinamente atualizado ao longo dos anos, quer recebendo mudanças internas agregando novos itens de conforto, quer utilizando chassis (sempre Scania) mais recentes, quer, com menor freqüência, ganhando retoques externos ou alteração de dimensões da carroceria. Oito versões foram produzidas – do Flecha Azul I ao VIII. Visualmente, as transformações mais significativas ocorreram em 1993 (Flecha Azul III), quando a zona elevada do piso foi estendida até a primeira fileira de poltronas, cada lateral passando a totalizar seis janelas iguais (até então, além das janelas de correr, havia duas outras rebaixadas, por lado, diferentes entre si). Nos anos seguintes duas outras alterações externas de monta foram realizadas: em 1996, a elevação da extremidade posterior do carro para alojar o ar condicionado (versão VI), e dois anos depois, pela primeira vez numa carroceria derivada do Dinossauro, a retirada do típico “degrau” nas laterais acompanhando o rebaixo na parte dianteira do teto, permitindo para-brisas bastante mais amplos (versão VIII).
Em 2000 a Cometa optou por mudanças mais substanciais: novos chassis (ainda Scania, porém com 3º eixo, modelo K-124 IB 6×2 com 420 cv), carroceria com desenho totalmente novo e pintura radicalmente diferente (a primeira alteração em quase 50 anos). Embora de estilo excessivamente conservador, a nova carroceria – simplesmente denominada CMA-Cometa – trouxe alguns detalhes modernos (revestimento externo em chapa lisa, eliminando as históricas laterais frisadas, vidros colados, itinerário eletrônico e ar condicionado com controle automático de temperatura); as poltronas mantinham o padrão da companhia – o couro vermelho. Dois anos depois o modelo teve a frente ligeiramente alterada, reduzindo a área das superfícies rebaixadas que circundavam os faróis.
Em 2002 a Cometa foi adquirida pela Auto Viação 1001, de Niterói, transformando a operadora fluminense na segunda maior empresa de ônibus do país. A 1001 logo alteraria profundamente a filosofia de atuação e o padrão de serviço da Cometa, inclusive a especificação dos chassis e origem das carrocerias, que passaram a ser adquiridos da Mercedes-Benz e Marcopolo. Os novos proprietários ainda buscaram dar alguma sobrevida aos antigos Flecha Azul, reformando-os a partir de 2004 nas instalações da Marcopolo, onde receberam algumas alterações estruturais, nova pintura, letreiro eletrônico; também foram renovados poltronas, divisórias internas e toalete.
Com a opção pela mudança no padrão da frota, foram suspensas novas encomendas à CMA. A empresa, agora desligada da Cometa e sob controle do seu ex-Diretor Administrativo, permaneceu ocupada até meados do ano com o encarroçamento dos últimos chassis remanescentes em estoque, a partir de então se limitando a fornecer peças e componentes para a manutenção da frota da Cometa. Ainda houve uma tentativa de retornar ao mercado, em 2003, quando foi preparado um projeto completamente novo – um protótipo rodoviário de 12 metros sobre chassi Volkswagen 17-240. Agregado à frota da Breda Turismo, o veículo permaneceu, porém, exemplar único. Em junho de 2009 a CMA finalmente encerrou as atividades.
Em 2008, pondo fim a um ícone da indústria brasileira de carrocerias, a 1001 determinou a desmobilização e venda de todos os Flecha Azul ainda em operação. Em 2013, contudo, como parte da comemoração dos 65 anos da empresa ainda viria a surgir um Flecha Azul LXV. Se tratava da restauração e customização de um exemplar de 1999 sobre chassi K-113, brindando-o com chapas de alumínio polido, pintura metálica, vidros colados, lanternas LED e ar condicionado. Objetivo da campanha: realizar apenas 65 viagens e então recolhê-lo definitivamente à garagem. O ônibus foi colocado em operação em 24 de agosto; dois meses depois cumpria a missão, após transportar 2.561 passageiros por cerca de 24.000 km, em estradas de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
- Flecha Azul I, a reedição do mítico Ciferal Dinossauro, fabricado pela CMA a partir de 1983.
- A Cometa começou a fabricar suas próprias carrocerias em abril de 1983 (fonte: Jorge A. Ferreira Jr. / O Rei da Estrada).
- Flecha Azul I operado pela Companhia Rex de Transportes, de Lages (SC) (foto: Alessandro Alves da Costa / egonbus).
- Desmobilizado pela Cometa, este Flecha Azul I foi adquirido pela Empresa Gontijo de Transportes, de Belo Horizonte (MG) (foto: Luciano Formiga / dbpbuss).
- Flecha II, de 1985, com 10 cm a mais de altura interna e para-brisas sensivelmente maiores (foto: George Andre).
- Flecha II na frota da Impala Auto Ônibus, subsidiária da Cometa destinada às linhas para Belo Horizonte (MG); o chassi é Scania K113CL (foto: Eliziar Maciel Soares / onibusbrasil).
- Sete CMA da Impala estacionados na garagem da empresa em Belo Horizonte (MG) (foto: Marcio Renato; fonte: Ivonaldo Holanda de Almeida / onibusbrasil).
- Flecha Azul II transformado em motor-home pela Chapecó Veículos Especiais.
- Flecha Azul II em chassi K 113 CL adquirido pela empresa LZ Turismo, de Maringá (PR) (foto: José Antônio Gama / onibusbrasil).
- Único modelo de carroceria urbana produzida pela CMA para suprir a CCTC, subsidiária Cometa de Campinas (foto: Marinaldo Jr.).
- Um dos belos urbanos CMA-Scania da CCTC (fonte: portalinterbuss).
- CMA urbana nas cores da campinense Tuca (foto: Francisco J. Becker).
- Um dos primeiros Flecha Azul III (ainda com a marca " II", na foto), modelo de 1993 com seis largas janelas laterais (fonte: Technibus).
- Flecha Azul IV (1996), primeira série da CMA dotada de rodas de alumínio.
- Um Flecha IV em chassi Scania K 113 CL de 1996 na frota da Lassala Transportes e Turismo, operadora sediada em Águas da Prata (SP) (foto: Adamo Bazani / diariodotransporte).
- Flecha Azul V (1996), trazendo a vigia adicional na parte inferior da porta, adotado na série anterior (foto: Renato Ferezin).
- Flecha Azul VI, também de 1996, série de 25 ônibus-leito com vidros colados e ar condicionado montado na parte posterior do teto (foto: Leandro Leal da Silva).
- No Flecha Azul VII, de 1996, apenas novas poltronas (foto: Tony Belviso).
- Flecha Azul VII; note o tradicionalíssimo luminoso com o desenho de um cometa, presente desde os primeiros GM norte-americanos da frota da empresa (foto: John Berata).
- Flecha Azul VII, em 2006 trazendo a nova pintura da Cometa (foto: Marcio Douglas Ribeiro).
- Foto comemorativa da conclusão da milésima carroceria da CMA (fonte: Ivonaldo Holanda de Almeida / FETPESP).
- Flecha Azul VIII, sobre chassi Scania K-124 4x2 com 360 cv; lançado em 1998, pela primeira vez apresentava as janelas "em linha", sem o desnível na altura do motorista; também as grades de ventilação do motor migraram da traseira para a lateral esquerda (foto: Mario Thadeu Andrade Botelho).
- CMA-Cometa, fabricada a partir de 2000; radicalmente diferente, era montada sobre chassi Scania K-124 6x2 (foto: Alex Fiori).
- A nova carroceria Cometa em montagem nas oficinas da CMA (fonte: Jorge A. Ferreira Jr. / O Rei da Estrada).
- CMA-Cometa 2000 (foto: Rafael da Silva Xarão / onibusbrasil).
- CMA-Cometa, com o novo padrão de pintura introduzido pela 1001 (foto: Bruno Freitas).
- Após a venda para a 1001, a frente da carroceria foi simplificada, perdendo o excesso de baixos-relevos, melhor se adaptando à nova grafia da pintura (foto: Tony Belviso).
- CMA-Cometa atendendo à linha Campinas-Praia Grande (SP) (foto: Rafael Ferreira Viva).
- Última versão do CMA-Cometa, na rodoviária de Campinas (SP), trazendo a pintura específica para as linhas rodoviárias internas ao estado de São Paulo (foto: Luciano Roncolato).
- Desmobilizado pela Cometa, este CMA-Scania foi adquirido pela Sáluatur, de Governador Valadares (MG), que, embora adotando tom diferente, manteve o padrão anterior da pintura (foto: Everson Marini / onibusbrasil).
- CMA com mecânica Scania K 124 operado pela Helios Coletivos e Cargas, de Carazinho (RS) (foto: Marcello Mussi).
- O mesmo CMA da Helios em vista oposta (foto: Marcello Mussi).
- CMA sobre Scania K 124 IB adquirido pela União Turismo, de Porto Murtinho (MS).
- Protótipo CMA sobre chassi Volkswagen, agregado à frota da paulista Breda (foto: Ailton Florencio da Silva).
- Protótipo CMA-VW (foto: Wesley Araújo).
- Flecha Azul LXV, edição comemorativa para os 65 anos da Cometa.
- Flecha Azul LXV aplicado em linha de carreira (foto: Jaziel Lima / onibusbrasil).
- Flecha Azul LXV em vista ¾ traseira (foto: Adriano Minervino / ocdholding).