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A francesa Citroën iniciou tardiamente a fabricação de automóveis, em 1919, porém logo veio a se destacar pelas avançadas soluções técnicas e estilísticas aplicadas a seus veículos. Absorvida em 1976 pela também francesa Peugeot, à qual cedeu quase 90% do capital, a Citroën passou a compor o grupo PSA, holding resultante da fusão das duas empresas.

A produção brasileira teve início em 2001, como primeiro fruto da planta construída pela Peugeot, em Porto Real (RJ), para a fabricação conjunta de produtos das duas marcas. Ainda antes de sua aquisição pela concorrente, porém, a Citroën já estudara sua instalação no Brasil: em 1973 alguns de seus executivos visitaram o país, tendo mesmo providenciado, em novembro daquele ano, uma pesquisa de opinião na cidade de São Paulo confrontando o modelo GS com produtos de três fabricantes nacionais. Antes disto ainda, em 1967, a FNM abriu negociações com o fabricante francês no sentido de nacionalizar três modelos populares – Dyane, Méhari (em versões civil e militar) e furgão 2 CV; a venda da empresa para a Alfa Romeo, no ano seguinte, interrompeu as conversas.

A marca teve grande difusão no mercado brasileiro entre os anos 40 e meados dos 50, quando a indústria automotiva nacional foi implantada e suspensas as importações. O retorno da Citroën ao país teve que aguardar quase 30 anos, só ocorrendo a partir de 1991, após a abertura de mercado facilitada pelo governo Collor. A empresa foi então uma das primeiras a se valer das novas diretrizes políticas do país, aqui instalando uma sólida rede de concessionárias e de assistência pós-venda (da mesma forma como fez a Peugeot; as duas empresas, no entanto, agiram com autonomia, já que, ainda que congregadas sob a PSA, mantêm personalidades próprias e seguem políticas comerciais independentes). Sua presença no mercado interno rapidamente se consolidou e já em 1996 deixava clara a intenção de aqui fabricar um carro médio. Falou-se inicialmente no “sucessor do ZX” (que viria a ser o Xsara, apresentado no Salão de Frankfurt de 1997); entretanto, apesar do sucesso que o modelo viria a ter no Brasil (foi o importado mais vendido em 1999), a escolha da Citroën recaiu sobre um carro ainda mais atual, recém-lançado na Europa (em dezembro de 1999), de concepção original e inovadora – o monovolume Xsara Picasso.

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Citroën Xsara Picasso trazendo as alterações de estilo de 2006.

A fábrica de Porto Real foi inaugurada em 1º de fevereiro de 2001, com a produção diária de 20 Xsara Picasso, com o reduzido índice de nacionalização de cerca de 50% (dentre outros itens, era importado o motor 2.0). Visando conquistar 3% do mercado nacional até 2004, a empresa se voltava para o futuro e já traçava planos de crescimento. Ainda na cerimônia de inauguração da fábrica, anunciou não apenas a construção de uma planta de motores junto à linha de montagem de Porto Real como também o possível lançamento futuro de um carro pequeno – o novo C3, ainda em desenvolvimento na França. Com o anúncio ficou caracterizada a estratégia da PSA para o Brasil: destinar à marca Citroën os produtos de categoria média superior, reservando à Peugeot os carros mais “populares” (aqueles com motores de um litro).

A comercialização do Picasso teve início em abril, em duas versões (GLX e Exclusive, logo seguida da básica GLS). Além das linhas curvas e de seu aspecto “ovóide”, a carro chamou atenção pela criatividade das soluções internas e pela presença de itens de segurança e conforto incomuns nos carros nacionais: sistema duplo de ar-condicionado, com insufladores também para os bancos traseiros; cinco amplas poltronas separadas, providas de braços e dotadas de cintos de segurança de três pontos; ABS; quatro air bags (laterais e frontais); grande quantidade de porta-objetos, distribuídos por todo o salão; painel de instrumentos digital; computador de bordo; controles do rádio no volante; mesas escamoteáveis para os assentos traseiros; carrinho plástico desmontável para uso externo, com capacidade de até 18 kg, guardado no porta-malas; piso totalmente plano; banco central traseiro deslizante para melhor acomodação dos passageiros. Comparada pela imprensa especializada com os dois outros monovolumes nacionais (Chevrolet Zafira e Renault Scénic), Picasso se destacou pelo acabamento cuidadoso e pela praticidade do interior, porém foi unanimemente classificada como a de pior desempenho e maior consumo; outras críticas: má visibilidade dianteira, difícil acesso ao estepe, acionamento da buzina na alavanca do pisca-pisca, mau posicionamento dos pedais. Estabilidade e distâncias de frenagem foram pontos altos.

O PRIMEIRO XSARA PICASSO: SUA FICHA TÉCNICA: carroceria monobloco, cinco lugares, bagageiro com 550 litros, 4,27 m de comprimento; motor transversal dianteiro refrigerado a água, com quatro cilindros em linha, 16 válvulas, 1.997 cm3, 118 cv; alimentação por injeção multiponto; tração dianteira com caixa manual de cinco marchas; direção hidráulica progressiva; suspensão independente nas quatro rodas (McPherson na dianteira e braços oscilantes e barras de torção na traseira); freios a disco ventilados na frente e a tambor atrás.

A Picasso foi bem recebido pelo mercado e, no final de janeiro de 2002, um ano após o lançamento, seria produzida a 10.000ª unidade. Em agosto do mesmo ano, já líder nacional de vendas na categoria, a Citroën apresentava o “modelo 2003”, idêntico ao anterior, a menos de nova pintura do painel e das maçanetas, fornecidas na mesma cor do carro; mais tarde também teria (como opcional) detector de obstáculos para manobras em marcha a ré. O carro completaria o primeiro semestre daquele ano com mais de 40% do mercado no segmento e com a indicação “Melhor Compra“, na categoria Minivan, pela revista 4 Rodas; no ano seguinte seria a vez dos leitores da revista Carro escolhê-la como a “Melhor do Brasil“.

Em outubro de 2002 a Citroën lançou seu segundo produto nacional – o furgão Jumper, com motor diesel turboalimentado com injeção direta Iveco (2,8 l e 103 cv), tração dianteira, cinco marchas, suspensão McPherson à frente, eixo tubular rígido e molas semielípticas atrás e freios a disco nas quatro rodas. Fabricado pela Iveco em sua planta de Sete Lagoas (MG), onde já estava sendo produzida a linha comercial Boxer, da Peugeot, o Jumper tinha 3,2 m de entre-eixos e capacidade para 1,6 t (ou 10 m³) de carga. Ao furgão seguiu-se o Minibus – van para 15 passageiros, mais o motorista.

No mesmo ano, no XXII Salão do Automóvel, a Citroën mostrou seu terceiro veículo brasileiro – o C3. Lançado na Europa havia menos de um ano (Frankfurt, 2001), era o primeiro fruto da nova geração de carros Citroën. Valendo-se de moderno e jovem design, com a família de veículos que começava a nascer a empresa buscava resgatar a antiga glória da marca, responsável no passado por alguns marcos da história do automóvel mundial, como o Traction (1934-57), o 2 CV (1948-90), o DS (1955-75) e o SM (1970-72). Posicionado pela empresa, no Brasil, na categoria “compacto premium”, o C3 apresentava excelente espaço interno e (tal como o Picasso) padrão de equipamentos superior ao encontrado nos concorrentes da mesma classe: muitos porta-objetos (inclusive local para celular, com carregador de bateria), porta-malas subdividido em dois compartimentos horizontais, vários sistemas de conforto e segurança acionados eletronicamente, mesinhas retráteis no encosto dos bancos dianteiros, instrumentos digitais coloridos, ar condicionado, cintos de três pontos nos cinco lugares e freios a disco nas quatro rodas, com ABS; os air bags, no entanto, só eram oferecidos como opcional. O desenho moderno porém delicado do carrinho tornou-o um must entre as mulheres, efeito reforçado pela intensa campanha publicitária veiculada em publicações para o público feminino.

O PRIMEIRO C3: SUA FICHA TÉCNICA: carroceria monobloco, cinco lugares, bagageiro com 305 litros, 3,85 m de comprimento; motor transversal dianteiro refrigerado a água, com quatro cilindros em linha, 16 válvulas, 1.587 cm3, 110 cv; alimentação por injeção; tração dianteira com caixa manual de cinco marchas; direção elétrica; suspensão independente nas quatro rodas (McPherson na dianteira e braços oscilantes e barras de torção na traseira); freios a disco nas quatro rodas (ventilados na frente), ABS.

Oficialmente lançado em maio de 2003, com índice de nacionalização próximo de 60%, o C3 foi oferecido apenas na configuração cinco portas, com motor 1.6 16 válvulas (o mesmo do Peugeot 206), porém com duas opções de acabamento: GLX e Exclusive. No início de julho a Citroën lançou uma versão 10% mais barata, dotada de motor 1.4 (1.360 cm3) de alumínio, 8 válvulas e 75 cv, importado da França, porém sem freios a disco na traseira nem ABS (o sinal externo mais visível a diferenciar as versões 1.4 e 1.6 era a ausência, na primeira, dos faróis auxiliares na saia dianteira). Apesar da potência menor, a imprensa especializada apreciou o comportamento dinâmico superior da versão 1.4, proporcionado pelo peso reduzido em 60 kg e pela nova calibragem da suspensão. Em ambas versões foi elogiado o espaço interno, a estabilidade e o consumo; não foram poupadas críticas, entretanto, à legibilidade dos instrumentos (como já acontecera com o Picasso) e aos ruídos causados pelos acabamentos internos e suspensão.

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Citroën C3 2008.

Para 2004 foram agendadas algumas novidades mecânicas para minivan Picasso e, aproveitando sua vocação “feminina”, uma série especial para o C3 – sua versão top, superequipada, preparada por Ocimar Versolato, astro brasileiro do mundo da “alta costura” internacional. A minivan, além das intervenções mecânicas (embreagem hidráulica, acelerador eletrônico e novos mecanismos de acionamento da caixa de marchas), também teve melhorados os comandos internos (setas, limpadores, volante, buzina, som, travamento das portas). Mais duas novidades chegaram para Picasso ao longo do ano: em fevereiro, reprogramação da injeção do motor importado 2.0 16v, elevando em 20 cv a potência (de 118 para 138 cv), melhorando o desempenho e reduzindo o consumo em quase 10%; e em maio, oferta de caixa automática seqüencial importada da França (a primeira, entre os monovolumes).

Apesar do estilo charmoso e inegáveis qualidades, o C3 não foi um sucesso de vendas imediato, em parte função do crescimento do número de concorrentes, mas principalmente pelo elevado custo do carro, que ainda continha 40% de componentes estrangeiros (em menor escala o mesmo acontecia com a Picasso). A prioridade da Citroën para 2005, portanto, foi a redução do custo dos seus veículos, em especial pela substituição de motores importados por unidades nacionais, ainda que de menor potência. Esteticamente quase nada mudou no ano: o Picasso recebeu apenas mudanças sutis nas lanternas traseiras e nos acabamentos internos; o C3 ganhou nova alavanca de câmbio e acabamentos internos monocromáticos. Por outro lado, os dois modelos ganharam novos motores. Em maio o monovolume passou a ter, como opção, a unidade 1.6 16v de 110 cv a gasolina fabricada em Porto Real, que também equipava o Peugeot 206. O segundo semestre foi a vez do C3: em julho recebeu motor 1.4 8v nacional de 75 cv (com ele o índice de nacionalização do carro subia para 75%); em outubro saiu o motor 1.6i 16v bicombustível (110 cv a gasolina e 113 cv a álcool), primeiro Citroën flex do mundo a utilizar os dois combustíveis (o francês rodava com gasolina e gás).

Em meados de 2005 a minivan Jumper passou por sua primeira reestilização: recebeu painel renovado, nova frente (grupos óticos, grade e para-choque) e lanternas traseiras maiores e com maior transparência; também o motor ganhou injeção eletrônica e aumentou de potência, passando a 127 cv. (O modelo furgão, que respondia por apenas 2% das vendas da Jumper, foi retirado de linha no ano anterior.) O explosivo crescimento da demanda por vans no país, levou a Citroën a priorizar o atendimento àquele mercado; com isso, o modelo Minibus passou a ter, de série, ar condicionado, relógio digital, tacógrafo e bancos individuais com apoio para cabeça,

2006 começou com mais um motor bicombustível, o 1.4 8v flex para o C3 (80 cv a gasolina e 82 cv a álcool). O único lançamento do ano ocorreu em maio, em resposta ao último modismo do mercado: o C3 XTR. Consciente das evidentes limitações do C3 em atividades fora-de-estrada e com o objetivo de diferenciar o carro do restante da concorrência (que parecia levar a sério seus falsos off-road), a Citroën desenhou uma inteligente campanha publicitária, vendendo-o exatamente pelo que era: um modismo. Assim, ao contrário de todos os outros fabricantes, preparou um carro com ar “aventureiro” (grade e para-choques pretos, bagageiro no teto, complementos em plástico negro sobrepostos aos arcos das rodas e às saias), porém sem adereços desnecessários (quebra-mato, estribos e pneu estepe externo, sem serventia para quem jamais iria entrar em uma trilha de terra). Completamente equipado e com acabamento de luxo, o XTR foi transformado na versão top da linha (ABS, ar condicionado, computador de bordo, bancos de couro, air bag duplo, rodas de liga e aparelho rádio-CD com controle na coluna de direção). O XTR recebeu motor 1.6 flex e novas lanternas traseiras com faixa central translúcida (um ano depois também estaria disponível o 1.4 flex).

A estratégia de nacionalizar motores e introduzir unidades multicombustível trouxe bons resultados e impulsionou fortemente as vendas do C3. Apesar da falta de um motor flex, a minivan Picasso permanecia a mais vendida entre os monovolumes médios e também a preferida pela imprensa (como exemplo, foi indicada pela revista Autoesporte como melhor relação custo-benefício entre os carros “Familiares“, na resenha anual Qual Comprar em 2006). A versão bicombustível finalmente chegou em outubro de 2006, com motor 1.6 16v flex, vindo acompanhada do primeiro navegador GPS instalado em carro nacional (ainda que opcional). Em agosto de 2007 a Picasso foi relançada com nova frente, semelhante à do modelo fabricado na China que, por sua vez, repetia o padrão da nova família Citroën, já presente nos modelos C4, C5 e C6. O para-choque e a lanterna traseiros também foram levemente modificados, porém a mecânica permaneceu inalterada.

Da inauguração da fábrica brasileira da PSA até 2008, a Citroën produziu 250.000 veículos. Dispondo de uma linha de veículos com boa aceitação, ainda que reduzida, a marca é beneficiada pela política de importações da empresa que, ao trazer moderníssimos modelos da França e Argentina, logrou fixar sua imagem como marca de prestígio, indiretamente estimulando o mercado para os carros que produz no país. Em 2008 a Citroën respondia por quase 2% da produção anual total da indústria automobilística brasileira, com crescimento superior à média. Não era uma grande parcela, porém não diferia substancialmente da maioria das empresas que chegaram ao país na década de 90. (Esta proporção permaneceria estável até 2012, quando sofreu inesperada queda de mais de 25%.)

<citroen.com.br>

 

O que houve de novo a partir de 2008

 

Séries especiais

Picasso Brasil (06/02); Picasso Étoile (12/02), C3 Ocimar Versolato (05/04), Picasso com DVD (11/05), Picasso Seleção (03/06), C3 Musique (09/06), C3 e Picasso França-Brasil (10/09), Picasso Movie (03/11), C3 Solaris (03/10, 04/12), Picasso Avatar (06/10), C3 Plus (07/10), C3 Sonora (02/11), AirCross Atacama (05/13), C3 Xbox One Edition (11/13), Aircross Salomon (11/14 e 03/17); C3 Style (09/16); C3 Urban Trail (06/18); Aircross, C3 e C4 Cactus 100 Anos (05/19); C4 Cactus C-Series (10/20); C4 Cactus Rip Curl (03/21); C4 Cactus X-Series (09/21); Novo C3 First Edition (08/22); C4 Cactus Edição Limitada Noir (09/23); Basalt First Edition (10/24)

Importados (desde 2001)

C4 VTR (cupê), Grand C4 Picasso, C5, C6 e C8 (da França); Berlingo, C4 Pallas e C4 hatch (Argentina); C4 Picasso (Espanha); DS3, DS4 e DS5 (França); C4 Lounge (Argentina); novo furgão Jumpy (Uruguai, 10/17); Berlingo furgão (Argentina, 08/18); novo Jumpy Minibus (Itália, 10/19); furgão elétrico Ë-Jumpy (França, 11/21); furgão Jumper Cargo (08/23, Uruguai); novo Jumpy Cargo e Vitré (Uruguai, 08/24)

Outras premiações e distinções (modelos nacionais)

Aircross (Prêmio Abiauto 2010, categoria Veículo Minivan); C3 (Os Eleitos 2013, categoria Hatches Compactos Premium; 4 Rodas); PSA [Citroën e Peugeot] (Marca Verde 2017; Autoesporte); C4 Cactus (Qual Comprar 2019, categoria Melhor SUVAutoesporte); C4 Cactus (Os Eleitos 2020, categoria SUVs4 Rodas); Novo C3 (Car Awards Brasil 2023, categoria Melhor Carro NacionalCar Magazine); Novo C3 (Prêmio Imprensa Automotiva 2023, categoria Melhor Carro Nacional até 1,2 Litro; Abiauto); Citroën (Carro do Ano 2023, categoria Marca Digital do AnoAutoesporte); Novo C3 (Prêmio Mobilidade Estadão 2023, categoria Melhor Hatch Compacto do BrasilO Estado de São Paulo); C3 Live 1.0 (Melhor Compra 2023, categoria Carros até R$ 75.0004 Rodas); C4 Cactus (Os Eleitos 2023, categoria SUVs Compactos4 Rodas); C3 (Melhor Revenda 2024, categoria Hatch Compacto de Acesso4 Rodas); C3 Live 1.0 (Melhor Compra 2024, categoria Carros até R$ 75.0004 Rodas)





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