CHAMONIX |
A Chamonix foi criada em 1985 por Milton Masteguin – um dos idealizadores do mítico DKW Malzoni e fundador da igualmente legendária Puma –, em sociedade com seu filho Newton. A firma (sediada em Jarinu, SP) tinha como objeto inicial a produção de móveis de fibra-de-vidro. Em 1987, após se associar com o engenheiro automobilístico norte-americano Chuck Beck, passou a se dedicar à fabricação e exportação de réplicas Porsche, hoje consideradas das melhores do mundo pela imprensa especializada internacional.
O primeiro lançamento da Chamonix foi a reprodução do Porsche Spyder 550, modelo de competição de grande sucesso, fabricado em pequena quantidade pela marca alemã entre 1954 e 1956. Projetada por Chuck Beck, a réplica tinha carroceria moldada em plástico reforçado com fibra-de-vidro, chassi tubular e mecânica Volkswagen (suspensões, direção, caixa de quatro marchas e motor 1600 refrigerado a ar, com 54 cv). Tal como no Porsche original, o motor era montado entre eixos, atrás dos assentos e em posição invertida; os freios dianteiros eram a disco. Como itens de série, bancos de couro e capota removível. O Spyder 550 com o motor VW boxer (sempre 0 km) permaneceu em produção por mais de 20 anos, porém com injeção eletrônica e 65 cv.
Desde o início a Chamonix teve na exportação seu foco principal – inicialmente para EUA e Japão – o que a obrigou a se empenhar na qualidade do projeto e, em especial, nos detalhes e no acabamentos dos seus veículos. A ótima qualidade da carroceria foi favorecida pelo processo de laminação de fibra-de-vidro utilizado pela empresa (hand laid up – com prensagem a mão, sem uso de pistola), método que assegura maior regularidade na moldagem, sem ondulações superficiais e variações de espessura, proporcionando menor peso e melhor controle dimensional das partes. O reconhecimento internacional da marca chegaria já na década de 90, quando o Spyder 550 foi apontado pela revista alemã auto motor und sport e pela norte-americana Road & Track como a melhor réplica da categoria no mundo.
Em 1988 foi lançado o Super 90 cabriolet, réplica do Porsche 356 C, de 1964, cujos moldes e gabaritos de fabricação haviam sido naquele ano adquiridos da CBP (trava-se do mesmo elogiado automóvel lançado e produzido anos antes pela Envemo). O Super 90 acompanhava o Spyder em todas as características técnicas: carroceria de fibra, chassi tubular, órgãos mecânicos VW, motor boxer 1600 0 km com 54 cv (mais tarde 65 cv), freios a disco à frente. Diferentemente do Spyder, porém, o motor era montado na traseira e o carro dispunha de vidros laterais e capota conversível. Menos de 30 unidades seriam fabricadas até 1995, quando a produção foi suspensa.
Em 1993 a Chamonix já exportava para diversos países europeus, inclusive para a Alemanha, embora 70% das vendas estivessem concentradas no Japão. Naquele ano foi apresentado mais um modelo, o Speedster, também este produzido sob licença da Beck Developement, empresa de Chuck Beck na Califórnia. Inspirado num modelo Porsche esportivo derivado do 356, lançado em 1952, o Speedster trazia a mesma mecânica do Super 90.
Em 1995 a Chamonix colocou em linha seu projeto mais complexo – o Spyder 550 S. Tratava-se do mesmo Spyder 550, porém com mecânica totalmente nova: motor (central) VW AP de dois litros refrigerado a água com injeção multiponto e 125 cv (do Santana), caixa de cinco marchas, suspensão traseira De Dion (braços longitudinais oscilantes e molas helicoidais) e freios a disco nas quatro rodas, sem assistência. Com esta configuração o carrinho de 680 kg transformou-se num pequeno bólido, alcançando (segundo o fabricante) 230 km/h e acelerando de 0 a 100 em apenas 6,5 segundos. Externamente, dois detalhes diferenciam o 550 S do 550: a grade dianteira para arrefecimento do radiador de água e os dois santantônios semicirculares cromados montados atrás dos assentos.
Em 1999 a empresa preparou uma versão de competição para o Speedster, com a mesma mecânica do modelo “de rua”, porém com a carroceria totalmente desprovida de adornos, para-choque tubulares, portas fixas, estreito para-brisa de acrílico, santantônio carenado para o piloto, faróis e espaço do carona cobertos com fibra, capô fixado com correias de couro e duplas lanternas traseiras. Era objetivo da Chamonix criar uma categoria específica para o modelo, a 365 Cup, o que não ocorreu.
A partir de 2001, por algum tempo o fabricante ofereceu, como opção ao motor 1600 dos modelos Speedster e Spyder, uma unidade boxer com 1,9 litros, dois carburadores Weber, injeção multiponto e 115 cv. Uma pequena série especial do 550 S foi colocada à venda em 2008, com a mecânica de série (desde 2007 motor AP 1.8 bicombustível do Gol, com 103 cv a gasolina ou 106 a álcool) porém com a carroceria pintada na cor laranja e rodas e detalhes metálicos em cinza grafite. Em paralelo à construção de réplicas a Chamonix também prestava serviços para terceiros: produziu protótipos para a Autolatina, construiu para a Fiat um Dobló na versão rali e participou do desenvolvimento do esportivo Lobini, para o qual fabricou moldes, gabaritos e as primeiras carrocerias.
Operando ininterruptamente por mais de 20 anos, com cerca de 1.500 unidades entregues, uma linha de produtos de alta qualidade técnica e acabamento primoroso e excelente receptividade no exterior, a Chamonix vinha se revelando a iniciativa empresarial brasileira mais bem sucedida de qualquer tempo no segmento de fabricação de réplicas. Em setembro de 2010, porém, fortemente afetada pela persistente crise econômica mundial que, partindo dos EUA chegou ao Japão, exatamente seus dois principais mercados, a empresa foi levada a interromper a produção.
No ano seguinte a marca, os projetos e o ferramental da Chamonix foram negociados com a empresa A+ Auto. A produção, transferida para São Paulo (SP), foi retomada em julho, sob a direção técnica de Newton Masteguin e com uma parcela de trabalhadores oriundos da antiga fábrica de Jarinu. Três foram os modelos fabricados: Spyder S (com as mesmas características técnicas de antes), Speedster 356 (motor boxer 1600 de 65 cv e câmbio de 4 marchas) e Roadster 356 (motor AP 2.0 de 125 cv e cinco marchas), os dois últimos trazendo a mesma carroceria do Speedster de 1993. Comercializados com a marca Chamonix New Generation e fornecidos apenas sob encomenda, não tiveram vida longa, sua produção não alcançando a metade da década.
Os carros, contudo, mais uma vez sobreviveriam: em 2019 a fabricação de cinco modelos seria retomada, em Campinas, pela nova empresa Athos Cars.
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