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PORQUE LEXICAR BRASIL?

Muito mais do que 50 anos de indústria automotiva

setembro 2015

Em 2006 o Brasil comemorou oficialmente o 50º aniversário da criação de nossa indústria automotiva, marcada pelo lançamento, em 19 de novembro de 1956, da caminhonete DKW Universal. Fabricado pela Vemag, já com 42% de conteúdo nacional, este carrinho com tração dianteira e motor de três cilindros e apenas 900 cc foi o primeiro automóvel produzido no Brasil segundo autorização e sob as normas do GEIA – Grupo Executivo da Indústria Automobilística. Constituído sete meses antes pelo presidente Juscelino Kubitschek, o órgão tinha como objetivo fomentar a instalação, em apenas cinco anos, de um parque industrial capaz de fornecer carros de passageiros, utilitários, caminhões, ônibus e tratores agrícolas com virtualmente 100% de nacionalização – patamar quase impensável de ser atingido por um país de economia ainda predominantemente agrícola.

Aquele DKW, contudo, não foi o primeiro automóvel fabricado em série no Brasil: em 30 de junho do mesmo ano deixara a linha de montagem o primeiro Romi-Isetta. Recuando no tempo, ainda mais marcante foi o ingresso da estatal Fábrica Nacional de Motores no setor automotivo, em 1949, com a nacionalização de caminhões e chassis de ônibus de origem italiana e a fabricação de tratores agrícolas com projeto próprio em sua grande fábrica no Estado do Rio de Janeiro. Diversas outras iniciativas de fabricação de veículos automotores ocorreram no país antes de 1956, ainda que de fôlego curto, dado a incipiência e fragilidade da estrutura industrial brasileira ao longo de toda a primeira metade do século XX.

Não menos importante, porque elemento essencial na cadeia produtiva, foi a existência, desde as primeiras décadas do século passado, de grande número de fabricantes de carrocerias para ônibus e, naquela fase inicial, também para automóveis. Ainda que a atividade possa ter origem algo mais remota, pode ser personificada pela empresa Luiz Grassi & Irmão, fundada em 1904, em São Paulo, e que em 1907 montou em sua oficina o primeiro automóvel Fiat chegado ao país, para ele construindo uma carroceria de desenho próprio. Maior e mais importante indústria de carrocerias de ônibus do país até a II Guerra Mundial, a Grassi sobreviveu até o início dos anos 70. Em seu rastro, uma centena de pequenos fabricantes surgiu de norte a sul, a maior parte de caráter artesanal e âmbito local, porém detentora de importante valor simbólico, há muito perdido, como agentes de descentralização econômica e dispersão das atividades industriais por todo o território nacional.

A indústria automobilística brasileira, portanto, representa muito mais do que as duas dezenas e meia de grandes fabricantes associados à Anfavea, com seus carros, caminhões, tratores e máquinas agrícolas: o universo automobilístico sempre foi infinitamente maior, compreendendo desde esportivos de pequena série, buggies e carros de competição até triciclos motorizados, tratores especializados, máquinas de construção e veículos militares. No conjunto – e certamente para surpresa de muitos -, bem mais de mil pequenos, médios e grandes construtores foram identificados ao longo do desenvolvimento deste site.

LEXICAR BRASIL se propõe a explorar este vasto universo, onde todas as regiões do país têm seus representantes, desde a marca Abais, um buggy fabricado em Sergipe, até as carrocerias tipo Zepelim, construídas artesanalmente no Pará no início dos anos 50. Entre A e Z, toda a alma brasileira está presente: criatividade de formas, concepção técnica avançada, desenho rebuscado, negócios bem sucedidos; mas também projetos toscos, amadorismo empresarial, irrealismo e fragilidade administrativa. Em meio a tal ebulição criativa, muitos projetos de grandes fabricantes mundiais foram programados e não concretizados. Como a história de um país não é feita só de sucessos, todos esses atores estarão presentes nas páginas seguintes.

 

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MAIS DE UM SÉCULO SEPARA ESTAS DUAS IMAGENS: automóvel italiano Itala com carroceria Grassi, do início dos anos 10, e o novo Ford Ka, projeto brasileiro recém-lançado.





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NO PRÓXIMO MÊS

No final de outubro LEXICAR estará completo para você


Pouco mais de um ano depois de terem sido postadas as primeiras páginas de LEXICAR, compreendendo as 300 marcas iniciadas pelas letras A, B e C, e cumprindo nosso compromisso de a cada mês agregarmos mais algumas dezenas de novas entradas, no final de outubro estará concluída a implantação de nosso site.

Serão somente três dezenas de novas marcas, mas surpreendentemente todas as letras estarão presentes: sim, temos ou tivemos veículos brasileiros com nomes iniciados pelas letras X e Z!

Além de quatro fabricantes de buggies e de alguns registros de indústrias de equipamentos agrícolas e de construção, um de carrocerias de ônibus e diversos de transformadoras de picapes em cabines-duplas, traremos ao menos dois nomes relevantes para a história de nossa indústria automobilística.

Falaremos sobre a Willys, fabricante de marcantes veículos, como Jeep, Rural, Aero Willys, Itamaraty, Dauphine, Gordini e o inesquecível esportivo Interlagos. Maior indústria brasileira do setor até 1961, quando foi ultrapassada pela Volkswagen, a Willys foi a responsável pela concepção do automóvel Corcel, que gozaria de extremo sucesso sob o emblema Ford.

Em escala oposta, contaremos tudo (o pouco) que conhecemos sobre os ônibus tipo Zepelim. Carrocerias de construção artesanal executadas no Pará entre as décadas de 40 e 50, com o formato de dirigíveis e montadas sobre chassis de caminhão, têm especial significado para LEXICAR: produzidas na região Norte, distante de qualquer centro industrial brasileiro da época, sob condições técnicas absolutamente precárias, traziam desenho único no mundo, até hoje objeto de curiosidade, tendo sido por longos anos utilizadas no transporte público de Belém, Manaus e até São Luís.

É forte o simbolismo que carregam. Bem podem expressar, para nós, toda a alma, garra e criatividade brasileiras. Agregar em uma única página todas as informações e fotografias disponíveis sobre esta original criação será um excelente “ponto final” para LEXICAR, que, como ambiente repositório de fatos e imagens, se propõe um instrumento para a preservação da memória da indústria automobilística nacional.





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