CAOA |
A marca CAOA (lê-se ca-ôa) é o acrônimo de Carlos Alberto de Oliveira Andrade, médico paraibano, fundador da empresa em 1979, então concessionária Ford em Campina Grande (PB). Em menos de seis anos a CAOA se transformou na maior revendedora da marca do país (em 2006 viria a ser a maior de toda a América Latina). Na década de 80 Carlos Alberto muda-se para São Paulo (SP).
CAOA concessionária
A grande oportunidade para o avanço retumbante da empresa no setor automobilístico – sonho sempre acalentado por Carlos Alberto – ocorreu em 1990, com a abertura do mercado brasileiro aos automóveis estrangeiros: em 1992 a CAOA tornou-se importadora oficial e exclusiva da Renault no país e com ela, em menos de três anos a marca francesa alcançou a liderança entre os importados e a quinta posição no mercado geral. Em 1998 a CAOA também se tornou importadora oficial da japonesa Subaru.
Em 1995 a Renault toma a decisão de instalar fábrica no Brasil, a ela associando rede de concessionárias e política comercial próprias, consequentemente tendo que dispensar a CAOA como sua representante. Carlos Alberto reagiu com agressividade, não apenas contestando na Justiça a perda da representação como exigindo sua participação na nova planta, como sócio.
Em paralelo com tais eventos, também em 1995 a coreana Hyundai decide desembarcar no Brasil como fabricante, com participação financeira majoritária do Grupo Regino, então seu representante no país. Em julho de 1997 lançou a pedra fundamental de sua planta (a ser instalada na Bahia), porém a violenta crise econômica que logo abalou os chamados “Tigres Asiáticos” levou à quase imediata interrupção das obras.
A partir daí formou-se uma cadeia de eventos que, entre idas e vindas, acabou resultando no abandono definitivo do projeto da Bahia: em agosto de 1998 a Hyundai comunica ao governo brasileiro sua desistência da implantação da fábrica; o Grupo Regino, sentindo-se lesado, abandona a representação da marca no país; o governo baiano decide participar diretamente do empreendimento; em novembro, a matriz coreana volta atrás e resolve retomar o projeto; e o governo baiano se volta para o Grupo CAOA, atraindo seu interesse para investir na construção da planta.
Sempre atento a toda oportunidade que surgia, em meio a tamanho imbroglio Carlos Alberto assume a representação oficial da Hyundai no Brasil, imediatamente iniciando maciça campanha nacional de propaganda dos Hyundai importados que passou a comercializar, com inserções a quatro cores de página inteira em jornais de grande circulação e anúncios de três a cinco páginas nas principais revistas semanais do país. O principal foco era institucional, com o objetivo de reforçar a imagem da marca, acentuando seu crescente desempenho comercial – em especial nos EUA – e a grande quantidade de premiações e destaques que vinha obtendo internacionalmente nos últimos tempos. Com a CAOA a Hyundai assumiu a liderança entre os importados.
CAOA montadora
Enquanto isso a dívida dos coreanos com a União por conta dos benefícios recebidos do Regime Automotivo se agravava, ultrapassando US$ 300 milhões em 2001. Embora não materializassem nenhuma ação concreta para equacioná-la, os coreanos continuavam declarando a intenção de aqui se instalar, já agora nomeando a CAOA como sua “parceira” no negócio. Em maio de 2004, quando parecia que toda a confusão se resolvera (assinatura de acordo entre o governo da Bahia e a CAOA e doação de novo terreno pelo Estado), unilateralmente o presidente da CAOA simplesmente comunica a transferência do empreendimento para Anápolis, atraído por novos incentivos concedidos pelo Estado de Goiás.
A fábrica goiana foi inaugurada em março de 2007. Construída totalmente com recursos próprios, passou a produzir o caminhão leve HR, importado sob forma CKD, com reduzida agregação de materiais nacionais. A produção foi iniciada com 600 unidades mensais, mas a CAOA pretendia, em 2010, alcançar 130 mil veículos por ano (quase 11 mil/mês), com cinco diferentes modelos. Ainda que fossem muito mais ambiciosos os sonhos de Carlos Alberto, pretendendo no futuro fabricar um automóvel “100% nacional“, com desenho e marca próprios (“em cinco anos poderemos lançar nosso primeiro carro“), foi somente em agosto de 2009 que pode anunciar o segundo veículo montado em Anápolis, o SUV O modelo acabava de passar por completa renovação na Coréia, mas a CAOA fabricaria a versão antiga, planejando exportá-la “para os EUA, Europa e todo o Planeta“. Com início de produção previsto para dezembro, o Tucson imediatamente passou a ser apresentado como “Made in Brazil: em breve do Brasil para o mundo“.
O maciço investimento da CAOA em propaganda (que a tornaria em 2009 o maior anunciante brasileiro do setor, à frente mesmo da Fiat, Volkswagen e GM) trouxe bons frutos para a marca Hyundai, levando três modelos à liderança de mercado: o Tucson, cuja demanda continuava a crescer (logo seria o SUV mais vendido do país); o HR, por dois anos o caminhão leve mais vendido do país, com mais de 67% do segmento até 3,5 t; e o hatch médio i30, importado a partir de 2008, que logo ultrapassou a concorrência.
A Hyundai coreana, por sua vez, escorada na ousadia do projeto da CAOA (com o qual nada contribuiu monetariamente) e no sucesso crescente dos seus carros no Brasil (graças às milionárias campanhas da CAOA), voltou a acenar com planos de aqui construir fábrica própria, finalmente inaugurada em 2012, em Piracicaba (SP), tendo em linha o novíssimo hatch compacto HB20. Com ele – e sempre suportada pela publicidade massiva da CAOA -, a empresa coreana iniciou uma trajetória de crescimento meteórico: em se incluindo os modelos importados, suas vendas aumentaram quase 50 vezes em apenas quatro anos – de 1.500 unidades em 2005, para 75 mil em 2009, posição consolidada com a inauguração da nova fábrica e o lançamento de seus primeiros automóveis nacionais. Com eles, em pouco mais de um ano a empresa se tornaria a sexta marca mais vendida do país.
CAOA Chery fabricante
A Chery foi a primeira e (até 2017, data deste texto) a única indústria chinesa de automóveis a se instalar no Brasil. Entre dezenas de fabricantes chineses prometendo como certa a nacionalização de carros, caminhões e máquinas agrícolas, pouquíssimos cumpriram o que prometeram, e somente ela, entre os automóveis, logrou inaugurar uma fábrica própria (em agosto de 2014, com produção iniciada oito meses mais tarde). Pouco mais de três anos depois, em outubro de 2017, período em que forneceu carros medíocres em quantidades pífias e com reduzidíssimo índice de nacionalização, com menos de 20 revendas ativas e em meio a mais uma longa greve por descumprimento de obrigações trabalhistas, a matriz chinesa colocou à venda o controle da filial brasileira.
Mais uma vez a CAOA soube aproveitar a oportunidade e no dia 11 do mês seguinte firma Termo de Cooperação Estratégica com o grupo chinês, mediante o qual adquire 50% do controle dos negócios da Chery no Brasil, assume a administração da planta de Jacareí e se responsabiliza pela comercialização da marca em toda a América do Sul. Tendo como meta a conquista de 5% do mercado nacional até 2022, os veículos resultantes da união, produzidos nas plantas paulista e goiana do grupo, receberiam a marca CAOA Chery.
Já no dia seguinte, com o estardalhaço e a grandiloquência usuais, a nova marca começou a ser anunciada: “CAOA CHERY. NASCE UM GIGANTE BRASILEIRO. A indústria automotiva do país atinge um novo patamar. A força e a tradição da CAOA se unem ao melhor da tecnologia chinesa para formar a grande montadora brasileira de automóveis.” Quinze dias depois, sem entrar em maiores detalhes, estampa em mais um anúncio de página inteira: “TRAZER DESIGNERS E ENGENHEIROS DA PORSCHE, BMW E MERCEDES. ISSO É INOVAÇÃO GIGANTE. A CAOA Chery conta com um dream team para projetar seus carros. Não foram poupados esforços para trazer os designers e engenheiros de três das marcas mais icônicas do mundo. Talentos que trazem uma visão rica e contemporânea para o projeto de cada carro da CAOA Chery que você vai ter o prazer de dirigir“.
Anunciando 2018 como “o ano da mudança“, pouco mais foi informado sobre o programa de produção da nova empresa. Apesar das negativas da CAOA Chery, uma importante questão ainda pairava ao fundo: qual postura a Hyundai assumiria com relação à permanência de produção de modelos seus pela CAOA? Para além disto, o que se pode inferir das esparsas declarações de executivos da CAOA e Chery é o seguinte: haverá duas famílias de veículos, sobre duas diferentes plataformas – a menor em Jacareí e a maior em Anápolis (neste caso, em paralelo ou não com produtos Hyundai); mesmo que não aconteça o desligamento da Hyundai, o antigo Tucson sairá de linha; certamente novos modelos Chery serão lançados, em especial novos sedãs e SUVs, como os já anteriormente prometidos Tiggo 2, 7 e 9, ou algum outro ainda em fase de protótipo; todos os novos produtos passarão por processo de “tropicalização”, recebendo as adaptações locais necessárias; apesar do US$ 2 bilhões em investimentos prometidos até 2022, não se espera grande elevação do conteúdo nacional (entre outras, as partes estampadas das carrocerias continuarão a ser importadas da China).
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O que houve a partir de 2018
- lançamento do SUV Tiggo 2, primeiro modelo da marca Chery produzido sob sua administração (04/18)
- Hyundai coreana comunica decisão de não renovar o contrato decenal de distribuição de seus veículos pela CAOA; acionada a Justiça, a empresa brasileira obtém liminar suspensiva (05/18)
- CAOA demonstra interesse em adquirir a fábrica Ford de São Bernardo do Campo (SP) e sua linha de caminhões, planta a ser desativadas ao longo de 2019 (02/19)
- em reconhecimento pelo trabalho realizado com a marca CAOA Chery, Carlos Alberto de Oliveira Andrade recebeu o Prêmio REI 2019, na categoria “Liderança de Montadora”, conferido pela publicação especializada Automotive Business (06/19)
- firmado acordo com a Ford para aquisição da fábrica de São Bernardo do Campo, onde a CAOA pretende continuar produzindo caminhões e lançar novo automóvel de marca não revelada; a empresa se comprometeu a manter 850 dos atuais empregados (cerca de 1/3 da força de trabalho da planta), a serem recontratados com salários entre 30 e 40% menores do que os praticados pela Ford (09/19)
- sem chegar a acordo nas negociações para a venda da fábrica de São Bernardo do Campo, a Ford encerra definitivamente a produção de caminhões no dia 30 de outubro; a CAOA atribui o impasse ao atraso na concessão de financiamento pelo BNDES, mas a Administração do banco afirma não ter recebido qualquer pedido formal de empréstimo (10/19)
- notícias não confirmadas dão conta do interesse da CAOA produzir veículos da marca chinesa Changan na planta de Jacareí (01/20)
- criação da CAOA Locadora, disponível somente para terceirização de frotas de empresas (02/20)
- poucos dias após ter o Governo Federal prorrogado por mais cinco anos os incentivos fiscais para a indústrias de veículos da região Centro-Oeste, a CAOA anuncia R$ 1,5 bilhão de investimentos nos próximos cinco anos em sua fábrica de Goiás; os recursos seriam direcionados para o lançamento de dez carros (entre modelos novos e atualização dos atuais), utilização de tecnologia elétrica e a introdução de uma nova marca, talvez Exeed – segmento de luxo da própria Chery (12/20)
- CAOA Locadora passa a oferecer carros por assinatura a pessoas físicas (03/21)
- CAOA vence disputa pela continuidade da representação brasileira da Hyundai; o processo, que corria em tribunal internacional de arbitragem em Frankfurt, Alemanha, envolvia contrato de representação de 20 anos, que previa prorrogação automática por mais dez anos, cláusula unilateralmente rompida pela firma coreana (07/21)
- dia 14, falecimento de Carlos Alberto de Oliveira Andrade, aos 77 anos de idade; administradas por gestores profissionais, as empresas do Grupo passarão a ser dirigidas pelos dois filhos de Carlos Alberto, estudantes de Administração em universidades norte-americanas, com 19 e 22 anos de idade; o Conselho de Administração foi assumido por sua viúva, formada em Direito (08/21)
- CAOA contrata 385 empregados para expandir a produção da fábrica de Anápolis (09/21)
- CAOA Locadora inclui o elétrico importado Chery iCar em sua frota (09/22)
- Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho, um dos filhos do fundador da CAOA, assume a Presidência da empresa (11/22)
- CAOA conquista o Prêmio UOL Carros 2022, na categoria Pós-Venda (12/22)
- CAOA inicia processo de reestruturação de sua rede de concessionárias: os pontos de venda atuais com a bandeira Hyundai Caoa passarão a trazer a marca Hyundai HMB (Hyundai Motors Brasil), vendendo exclusivamente modelos Hyundai, nacionais ou importados; o restante da rede assumirá a bandeira CAOA Chery (03/23)
- CAOA passa a comercializar mais dois modelos Hyundai importados: o híbrido Ioniq (antes disponível somente para locação) e hatch Kona, nas versões híbrida e elétrica (07/23)
- na esteira dos grandes investimentos planejados para o Brasil pelas chinesas BYD e Great Wall, também a CAOA anuncia aporte de R$ 3 bilhões em Anápolis, até 2028, para aumentar em 150% a produção do Tiggo 5 (com motor a combustão); nada foi anunciado sobre a nacionalização de modelos híbridos ou elétricos (08/23)
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Chery chinesa inicia a montagem de rede própria de concessionárias para, a partir de 2024, comercializar suas marcas de luxo Omoda e Jaecoo, ao mesmo tempo que anuncia a intenção de produzi-los no Brasil em fábrica própria (10/23)
- em contraponto ao comunicado público anterior da GM, Toyota e Volkswagen contra a prorrogação do Regime Automotivo de incentivo à indústria de veículos nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, Stellantis se une à CAOA e HPE (Mitsubishi) para publicar Carta Aberta em página inteira nos maiores jornais do país defendendo a manutenção das regras em vigor (12/23)
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segundo turno na fábrica de Anápolis e contratação de mais 548 empregados, elevando a capacidade de produção de 3.000 para 4.000 veículos/mês (01/24)
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CAOA cogita abrir capital na Bolsa e desenvolver e produzir veículos com marca própria (02/24)
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realinhamento dos acordos de cooperação entre Hyundai e CAOA: importação e distribuição de veículos Hyundai passam a ser integralmente assumidos pelo fabricante coreano e planta de Anápolis é disponibilizada pela CAOA para produção de modelos da – e para – Hyundai, mediante remuneração (02/24)
- CAOA planeja duplicar a capacidade da fábrica de Anápolis, passando das 80 mil unidades/ano atuais para 160 mil até fevereiro de 2025; não há expectativa de elevar o índice de nacionalização, situado entre 30 e 40% (segundo a empresa, “fabricamos muitas versões de produtos e assim há pouca escala para localizar“) (08/24)