BIANCO |
Ottorino (Toni) Bianco nasceu na Itália em 8 de janeiro de 1931 e em 1952 emigrou para o Brasil, onde teve riquíssima carreira como projetista e construtor de carros esportivos. Após um curto período no interior do Estado, muda em 1954 para São Paulo (SP) e começa a trabalhar na oficina Monarca, ajudando a construir carrocerias de automóveis sob encomenda. Seus dotes mecânicos são logo reconhecidos e, em 1957, é convidado a se transferir para a oficina de Nicola e Victor Losacco, que prepara veículos para competição; lá projeta chassis tubulares e, usando motores importados, monta carros para provas de Mecânica Nacional. Em 1959 já está na Escuderia Tubularte, onde projeta o primeiro Fórmula Júnior brasileiro, com chassi próprio, motor Porsche 1.5 e suspensão dianteira VW. Em 1962 cria com Chico Landi a Indústria de Automóveis Brasil e passa a fabricar o Fórmula Jr., agora com motores nacionais.
Em 1965 entra para o Departamento de Competições da Willys, onde tem atividade intensa. Dentre suas muitas e importantes criações para a empresa estão a alteração do sistema de refrigeração dos Renault Alpine importados, transferindo os radiadores para a dianteira, o projeto do Gávea – primeiro Fórmula 3 nacional – e a construção do Mark I e do vitorioso Bino Mark II. Quando o Departamento de Competições é encerrado, abre com Luiz Greco a Bino-Samdaco, revendedora Ford que preparava carros Corcel, vendidos como Corcel Bino. Em 1970 entra em sociedade com uma revenda paulista da FNM e funda a Fúria Auto Esporte Ltda., onde monta os protótipos esportivos Fúria e, a pedido da FNM, desenha e constrói o Fúria GT, um belo 2+2 sobre chassi JK 2150.
Em 1974 encerra as atividades da sua firma e cria outra empresa, a Toni Bianco Competições, sempre em São Paulo, porém com oficina em Diadema (SP). Continua preparando carros de competição, mas dessa vez também quer tornar-se fabricante e em 1976 lança no X Salão do Automóvel o Bianco S, versão urbana do protótipo Fúria e primeiro automóvel a levar o seu nome. Cupê de dois lugares, linhas aerodinâmica e apenas 1,16 m de altura, o Bianco S teve grande sucesso desde sua apresentação no Salão, onde foram vendidas mais de 180 unidades. O carro tinha carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro montada sobre a plataforma Volkswagen Brasília, motor 1600 de dupla carburação e 65 cv e freios a disco nas rodas dianteiras. O capô tinha falsas entradas de ar e a traseira (onde ficava alojado o pneu estepe, junto do motor) trazia seis lanternas redondas, vindas do Chevrolet Opala. O carro tinha um bem equipado painel de instrumentos, comando elétrico dos vidros, revestimento interno em couro e para-brisa verde laminado com antena embutida (pela primeira vez no Brasil), mas apresentava má vedação e falhas na ergonomia. Apesar da boa estabilidade, a mecânica utilizada não lhe permitia desempenho à altura das linhas esportivas e do luxo interno.
Em 1978 lança o Bianco SS (ou série 2), com pequenas alterações externas (eliminação das ranhuras no capô, aberturas para ventilação do motor nas laterais e na saia traseira), novo painel de instrumentos, novos bancos de couro, cintos de segurança de três pontos e melhor vedação contra água e poeira. A fábrica não tinha estrutura para atender à grande demanda e a opção de Bianco foi vendê-la; a marca e seu logotipo, no entanto, seriam mantidos por mais três anos.
No XI Salão, naquele mesmo ano, já sob nova administração, foi apresentada a versão revista do Bianco SS – o Tarpan. Visando a exportação, a empresa teve que adotar para-choques retráteis, obrigando-a a alterar radicalmente o desenho da dianteira, eliminando as garras de borracha e utilizando apenas dois faróis, em vez dos quatro anteriores. Apesar das linhas frontais terem se tornado mais atualizadas, seu estilo ficou em desacordo com o restante do carro, que não sofreu alterações. Junto com o Tarpan foi anunciada a utilização da mecânica VW refrigerada a água. Isto só viria a ocorrer, porém, em 1981, quando foi lançado o modelo Tarpan TS, coincidindo com o abandono da marca Bianco e a mudança da razão social da empresa para Tarpan Indústria e Comércio de Fiberglass. O TS foi construído sobre um chassi em duplo Y, fabricado em chapas de aço dobradas, que recebeu o motor 1.6 de 96 cv do Passat TS, montado adiante do eixo traseiro, suspensão McPherson e freios a disco nas quatro rodas. A tampa traseira ganhou um ressalto para permitir a montagem do motor vertical e alojar uma janela para sua ventilação. Na mesma época foi lançado um modelo conversível, com opção de refrigeração a ar ou a água. Foram produzidas poucas unidades do Tarpan. Em 1983 a empresa cerrou as portas.
Enquanto isto, Toni Bianco continuava sua carreira. Em 1978 desenhou uma réplica do Fiat X 1/9 para a Corona (da qual era Diretor), carro comercializado com o nome Dardo, e em 1983 projetou a primeira van monovolume brasileira – a Futura. Apesar da idade, Toni Bianco permanece em plena atividade: a partir de 2005, por encomenda do Museu do Automobilismo Brasileiro de Passo Fundo (RS), não só construiu mais um de seus Fórmula Jr. (o sexto, pois não havia restado nenhum exemplar antigo completo), como também realizou, apenas com base em fotografias e na sua memória, uma cópia fiel do mítico DKW Carcará.
Depois de 2008 criou a réplica de um GT Cisitalia – seminal desportivo italiano do pós-guerra –, montada sobre chassi tubular com motor Fiat Palio e transmissão Chevrolet Chevette, e uma bela barchetta sobre chassi Alfa Romeo 6C2500 SS italiano de 1951. Também nestes casos, Bianco valeu-se somente de fotografias de época para moldar em chapas de alumínio, sobre uma gaiola de vergalhões de aço, a carroceria dos dois grandes carros.
De 2017 é seu mais recente projeto – um original conversível, batizado Bruna (nome de sua neta mais velha), utilizando mecânica Hyundai i30 montada na traseira, sempre com carroceria de alumínio, suspensão dianteira esportiva, freios a disco com ABS e direção com assistência elétrica.