TAC |
O projeto deste moderno utilitário teve origem em iniciativa inédita da FIESC – a Federação das Indústrias de Santa Catarina –, ao instituir o Programa Automotivo Catarinense, destinado a fomentar a criação de uma indústria de automóveis em um Estado pródigo de fabricantes de componentes automotivos, porém sem produção de veículos completos. Dentre os instrumentos de ação previstos no Programa, e como forma de comprovar a viabilidade de suas teses, estava o incentivo à elaboração de projetos de carros e caminhões.
O primeiro produto desta estratégia, oficialmente apresentado á imprensa em outubro de 2004, foi o denominado projeto A4, que daria origem à TAC. Era um moderno jipe 4×4 com reduzida e suspensão independente de longo curso nas quatro rodas, construído com cerca de 70% de componentes de origem catarinense (a princípio, apenas motor, câmbio e pneus viriam de outros estados). O protótipo trazia motor Volkswagen AP 2.0 de 112 cv, caixa Eaton de cinco marchas, suspensão por braços triangulares sobrepostos e duas molas helicoidais e dois amortecedores por roda, quatro freios a disco e direção hidráulica.
O corpo principal da carroceria, fornecido pela Tecnofibras, era moldada em plástico reforçado com fibra de vidro e complementado por painéis laterais removíveis e vários componentes de polipropileno e plástico ABS (capô, frente, para-lamas, para-choques). Modelos matemáticos e softwares sofisticados foram utilizados no dimensionamento das partes e sistemas e no desenho da carroceria e da estrutura tubular monobloco, conformando uma gaiola mantida parcialmente aparente (escritórios paulistas de engenharia e design participaram do projeto). Graças a isto, obteve-se um veículo de peso bastante reduzido para a categoria: 1.300 kg, quase 30% abaixo do Troller. O A4 foi desenvolvido com flexibilidade tal que já previa a utilização de motores diesel e a criação de derivados para uso militar e agrícola, com tração 4×2 ou no formato picape. O carro foi a sensação do XIII Congresso e Exposição SAE Brasil, em novembro, onde foi exibido.
Aprovado o projeto, foi decidida a constituição da TAC – Tecnologia Automotiva Catarinense (hoje TAC Motors S.A.), com sede em Joinville, sociedade anônima com participação de diversas empresas metalmecânicas do Estado (42 investidores, dos quais cinco controladores), visando o lançamento comercial do carro. Registrada ainda em 2004, a empresa pretendia iniciar a produção dois anos depois, alcançando cem unidades mensais em 2009. O primeiro lote piloto, com 12 unidades, foi concluído em 2006; dois dos carros foram mostrados no XXIV Salão do Automóvel, na primeira apresentação do modelo ao grande público, já agora com um nome definitivo: Stark.
Esta série trouxe diversas alterações com relação ao protótipo, mudando-o de patamar na categoria: motor VW 1.8 flex (106 cv), teto rígido, novo painel de instrumentos, vidros e travas elétricos, ar condicionado, bancos de couro, vidros verdes, cintos de segurança de três pontos nos quatro assentos e acabamento interno mais requintado. (Paradoxalmente, pesquisas de mercado indicaram que um modelo mais caro, para as classes A e B, venderia mais do que uma versão simplificada, pois a redução de preço não seria suficiente para torná-la acessível à classe C. Da mesma forma, apenas 6% dos potenciais consumidores declararam intenção de dar utilização pesada ao veículo, o que levou a TAC a privilegiar conforto e aparência a dotes fora-de-estrada.)
Em 2008 o Stark ganhou medalha de ouro, na categoria Transportes, do Prêmio Idea/Brasil de Design. No final do ano, no XXV Salão, saiu a versão diesel, equipada com motor turbo FPT de 2.3 l, 16 válvulas e 127 cv, que exigiu a troca do câmbio (ainda de cinco marchas) e o reposicionamento de alguns componentes; esteticamente nada mudou. Logo a seguir as primeiras 25 unidades foram por fim entregues aos compradores. Com 26 cm de vão livre, ângulo de ataque de 490, de saída de 440 e capacidade de travessia de até meio metro de lâminas d’água, o modelo colocado em produção ganhou porta-objetos na tampa traseira, capô mais elevado com entrada de ar adicional e grade levemente maior em altura. Como opcionais, snorkel, rack no teto, guincho, volante revestido em couro e teto solar.
O exemplar testado pela revista 4 Rodas (em março de 2010) apresentou quebra do semi-eixo e falhas de acabamento, defeitos atribuídos ao estágio de arranque da linha de produção. Em 2012 a TAC iniciou o projeto da versão elétrica – denominada eStark – utilizando tecnologia do fabricante norte-americano de motocicletas MotoCzysz. No mesmo ano a empresa anunciou sua transferência para Sobral (CE); a nova fábrica, a ser estabelecida com incentivos estaduais, em cinco anos alcançaria a capacidade máxima de 3.000 unidades/ano. A produção teve início no ano seguinte, em abril sendo entregues os primeiros 11 carros fabricados no Nordeste. Contando com 130 empregados, a nova fábrica tinha capacidade para 120 unidades/mês, tendo-se a expectativa de vender até 700 unidades ainda em 2013.
A produção seriada, contudo, jamais foi alcançada, e logo o jipe passou a ser fabricado apenas por encomenda. Em abril de 2015 a desconhecida Zotye, uma das muitas empresas chinesas que buscavam se instalar no Brasil, anunciou a negociação de “amplo acordo de cooperação comercial” com a TAC, segundo o qual montaria carros com a sua marca no Ceará e exportaria o Stark para a América Latina. O comunicado oficial da Zotye, contudo, dava a entender que, mediante investimento de R$ 120 milhões, não só assumiria a administração da TAC como “reformularia sua estratégia comercial” e relançaria o jipe com motor flex e câmbio automático.
Em outubro foi oficialmente comunicada a aquisição da TAC pela firma chinesa, seus planos imediatos passando a incluir, além do jipe flex, a versão elétrica e uma picape 4×4. Como usualmente ocorre com os chineses, porém, mesmo após reiteradas promessas o negócio terminou por não se concretizar.
Em 2018, com o quadro de empregados reduzido a 30, o jipe continuou a ser fabricado por encomenda, mas somente na versão totalmente equipada Black Cover, com teto na cor preta, rodas de liga, bagageiro no teto, snorkel, câmera de ré, central multimídia e bancos de couro. A situação se complicaria ainda mais no final de 2019, quando o governo de Santa Catarina passou a cobrar judicialmente dívida de R$ 11,5 milhões, derivada de financiamentos concedidos à empresa para a construção de sua fábrica, incentivo que perdeu o sentido após a transferência da produção para o Ceará. (Até aquela altura, somente 250 jipes havia sido construídos, cem montados no Sul e 150 no Nordeste.)
Enquanto isso, nova reviravolta acontecia. Já então sob controle do grupo econômico alagoano Ferreira Souza e com novo nome (CAB Motors), dias antes de encerrado 2019 nova transferência foi anunciada, agora para o Distrito Federal, “a convite do governador“. O lançamento da pedra fundamental da nova fábrica, na cidade-satélite de Santa Maria, aconteceria em janeiro do ano seguinte, com previsão de inauguração em 2021 e produção mensal de cem unidades do ainda desconhecido modelo Stark Mountain; 80% das vendas seriam corporativas, especialmente para órgãos governamentais. O grupo proprietário também pretende instalar um centro de desenvolvimento e pesquisa em Araripina e uma linha de montagem em Pedra, ambas cidades localizadas em Pernambuco.
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