PRÊMIO LÚCIO MEIRA
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Iniciativa pioneira no Brasil na área de design, o Prêmio Lúcio Meira para projetos de veículos automotores foi instituído em 1960 pela Alcântara Machado Comércio e Empreendimentos, empresa idealizadora e por longos anos encarregada da organização do Salão do Automóvel de São Paulo. O nome do concurso prestava homenagem ao almirante Lúcio Meira, presidente do Geia desde sua criação, em junho de 1956, até 1959, e principal responsável técnico pela implantação da indústria automobilística brasileira. É evidente a importância do evento para a nascente indústria nacional de veículos, pois ainda que o país já dispusesse de quadros técnicos em engenharia e administração capazes de assumir funções de desenvolvimento e gestão, inexistiam projetistas com formação superior na área de estilo (a ESDI, primeira escola brasileira de design, só seria criada em 1962, no Rio de Janeiro).
O Prêmio foi criado em conjunto com o Salão do Automóvel, acompanhando-o durante nove edições, se aprimorando e especializando com a experiência acumulada. Até 1964, ao primeiro colocado cabia uma bolsa de especialização na Europa, incluindo estágio prático e visitas técnicas a fabricantes de automóveis e carrocerias; a partir de 1966 a premiação passou a ser em dinheiro.
A primeira competição, em 1960, teve tema livre, restringindo-se os organizadores a fornecer diagramas em escala 1:20, indicando as dimensões dos chassis (teóricos) a serem tomados como base (entre-eixos, ângulos de entrada e saída, vão livre e localização do motor). De mais de 600 trabalhos apresentados, um júri formado por críticos de arte e representantes da indústria premiou os três melhores. Para melhor balizar o concurso seguinte – embora o tema continuasse livre – foi preparada a brochura Noções para Projetar e Construir um Modêlo de Veículo Automotor, bem ilustrado volume que não só fornecia orientações quanto à definição do estilo e a detalhes decorativos, como ensinava a técnica de construção de maquetes em argila, madeira e gesso. Também foram três os projetos contemplados na segunda edição do Prêmio.
Para o julgamento do concurso do III Salão, em 1962, foi constituído um júri internacional de peso, composto pelos italianos Giuseppe Pininfarina e Luigi Segre (da Ghia) e o norte-americano Brook Stevens. O tema foi limitado a “carros de passeio”. Dos 83 trabalhos apresentados foram premiados seis. Aquele foi um ano de transição para o Salão e o Prêmio Lúcio Meira: a exposição passava a ser bienal e o Prêmio a ter um tema específico em cada edição. A decisão foi feliz e o salto de qualidade apareceria já no Salão seguinte – o quarto, em 1964 –, quando o amadurecimento da indústria e o florescimento dos cursos de design junto a faculdades de arquitetura permitiram revelar um dos melhores projetos de automóvel até hoje concebidos no país: o Aruanda, do então estudante de arquitetura da FAU/USP e estagiário da Vemag Ari Antônio da Rocha. O propósito do projeto era contribuir para a solução dos problemas de circulação nas grandes cidades.
Todos os concursos seguintes foram vencidos por arquitetos ou estudantes de arquitetura, individualmente ou em equipe. Os temas foram: táxi (1966), veículo de entrega urbana de cargas leves (1968), veículo para o transporte urbano de passageiros “aplicável em áreas do tipo Parque Ibirapuera, Parque Anhembi, Cidade Universitária, centro de cidades, parques ou avenidas à beira-mar” (1970), veículo auxiliar não motorizado para turismo (1972) e unidade de salvamento para o Corpo de Bombeiros (1974).
Esta seria a última edição do Prêmio Lúcio Meira. Na altura, academia e empresas já haviam despertado para a necessidade de formação de quadros de design para a indústria automobilística. O curso prático criado em 1968 por Rigoberto Soler na FEI, em pleno centro do ABC, já mostrara resultados excepcionais. Julgando cumprida sua “missão”, o X Salão, em 1976, já não mais contaria com o evento.
- "Noções para Projetar e Construir um Modêlo de Veículo Automotor" - manual de orientação distribuído aos participantes das primeiras edições do Prêmio Lúcio Meira.
- "Cida" – projeto do uruguaio Carlos Henrique Luciardi, primeiro colocado no Prêmio Lúcio Meira de 1962 (fonte: site showroomimagensdopassado).
- O projeto "Cida" compreendia uma família de veículos, da qual também faziam parte um cupê, uma caminhonete e um conversível; o motor podia ser disposto na frente ou atrás (fonte: site di-conexiones).
- O segundo colocado em 1962 foi o projeto "Itapuan", de Mario Piancastelli, de Belo Horizonte (MG); anos depois, Mário seria o responsável pela equipe de design da Volkswagen, onde criaria ícones como Brasília, SP-2 e Gol (fonte: site showroomimagensdopassado).
- Projeto "Itapuan": como prêmio pelo segundo lugar, Márcio Piancastelli ganhou um estágio no estúdio Ghia, em Turim (fonte: Alexander Gromow / autoentusiastas).
- Proposta de Paulo Pedreira Cerqueira (Salvador, BA), terceiro lugar em 1962 (fonte: site showroomimagensdopassado).
- Projeto de Francisco José de Moraes (São Paulo, SP), quarto colocado em 1962 (fonte: site showroomimagensdopassado).
- O projeto de Gilson Silveira, de Petrópolis (RJ), recebeu o quito prêmio em 1962 (fonte: site showroomimagensdopassado).
- Também de 1962 foi a proposta do paulistano Sérgio Ci (fonte: site showroomimagensdopassado).
- O magnífico Aruanda, de Ari Antônio da Rocha, vencedor do Prêmio Lúcio Meira de 1964, foi tema de reportagem da revista italiana de design automobilístico "Il Carrizziere Italiano"; a foto da capa mostra o carrinho exposto no Salão de Turim de 1965.
- Esportivo "Barra", de Joaquim Redig de Campos (então com 18 anos), menção honrosa no Prêmio Lúcio Meira de 1964 (fonte: Claudio Farias).
- Tendo "Táxis" como tema, o concurso de 1966 foi vencido pelo projeto "Levaeu", preparado por uma equipe de três alunos da FAU/USP.
- Maquete do projeto "Levaeu" (foto: 4 Rodas).
- Também foram dois alunos da FAU/USP (Ricardo Flôres e Alfredo Talaat) os vencedoras do Prêmio do VI Salão, em 1968, com o veículo "Mutante", para entrega de cargas leves urbanas; projetado para receber motor traseiro VW ou Ford Corcel, teria prateleiras reguláveis, portas laterais de enrolar, tampa traseira permitindo acomodar cargas mais longas do que o estrado e uma tonelada de capacidade.
- Outra vista da maquete do projeto "Mutante" (foto: 4 Rodas).
- Desenvolvido por Sérgio Vieira de Souza, o projeto "Sapeca" mereceu menção honrosa no mesmo concurso (foto: 4 Rodas).
- Segunda menção honrosa do concurso de 1968 foi o projeto "Levatudo", de Pedro Moacyr de Campos e Marcos de Souza Dias, estudante e professor da FAU/USP (foto: 4 Rodas).
- Projeto vencedor do Prêmio Lúcio Meira do VIII Salão - um trailer para lazer e serviços projetado pela equipe AAMM/6, formada por professor e alunos da paulistana Fundação Álvares Penteado (fotos: Dirigente Industrial).
- A última edição do Prêmio Lúcio Meira, em 1974, teve como ganhador o projeto "Aruaê", realizado por equipe de quatro alunos da FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado, de São Paulo (SP); concebido para o chassi Ford F-350, era um veículo para o Corpo de Bombeiros com cabine avançada, quatro portas de acesso, armários laterais com portas deslizantes e bote de salvamento; o projeto foi aproveitado pela Mat-Incêndio, do Rio de Janeiro.